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Le Retour

2.5/5

Le Retour

2023

110 minutos

2.5/5

Diretor: Catherine Corsini

Le Retour é um típico filme de festival. Para usar uma linguagem acessível, é o equivalente a qualquer filme esquecível que a Netflix lança semanalmente ou aos filmes do recheio de alguma fase da Marvel. É um drama familiar e de amadurecimento já repetido à exaustão, de tal maneira que as convenções transformam-se em clichês, as resoluções dos conflitos acontecem de forma previsível e com cheiro de artificialidade e as intenções e atuações sequer chegam a compensar o enredo engessado. É a inteligência artificial escrevendo os filmes de festivais, basicamente.

Na verdade, são Catherine Corsini e Naïla Guigue que assinam o roteiro, que inicia com a senegalesa Kheìdidja (Aissatou Diallo Sagna) deixando a cidade onde mora, acompanhada das filhas de 1 e 3 anos. Ela recebe a notícia da morte de alguém e a narrativa avança 15 anos. Kheìdidja, agora aos 40, as filhas Jessica (Suzy Bemba) e Farrah (Esther Gohourou) retornam à Córsega, após a mãe ser contratada como babá de uma família parisiense. Ecos de A Negra de…, clássico de Ousmane Sembène, ficam somente na intenção, pois o roteiro não tem a ambição de debater temas raciais (não diretamente), e opta por um drama fracionado entre as três personagens. 

Kheìdidja encontra-se com o melhor amigo do ex-marido, e o flerte pode transformar-se em relacionamento. Jessica busca respostas sobre o pai e envolve-se amorosamente com a filha dos patrões da mãe, Gaia (Lomane de Dietrich). E Farrah, a rebelde, encrenca-se com um traficante de drogas. Cada subtrama amadurece até a catarse relacionada, adivinhem!, com o mistério criado pela trama no prólogo: o que aconteceu há 15 anos?

A forma como isso é feito é o que me incomoda. O roteiro não deveria ser o protagonista do cinema, mas a encenação da diretora não deixa alternativa ao espectador: a ilha de Córsega, paradisíaca por natureza, encanta e hipnotiza a diretora. A construção imagética é mantida em refém pela beleza do local: o mar azul, a natureza rebelde. A beleza está do lado de fora mas de forma postal, não narrativa. Um argumento até poderia ser feito sobre aparências: a ilha é bela externamente, mas de perto é apenas o local onde o passado está enterrado. Isto está na margem, mal dá para sentir.

Restaram às atuações, boas e convincentes, e ao roteiro, pedestre, a tarefa de ser o foco da narrativa. O resultado é desequilibrado, pois os clichês destoam. Em determinado momento, Farrah recuperou a bola das crianças, tomada por um traficante local, e levou consigo o pacote de droga escondido. Aí o traficante, suspeitando ter sido ela, rouba o computador de sua irmã. No meio do rolê, sem razão aparente senão a rebeldia, Farrah rouba a carteira de uns turistas, é ameaçada de estupro e salva pelo… traficante, que antes havia sido racista. Tudo esquemático para forçar chegar aonde a diretora deseja. Há até mesmo o clichê batido do ato de colocar um curativo e o resultado óbvio decorrente desta cena.

(Ganha um ponto na prova final quem respondeu uma aproximação amorosa e sexual).

Esses são apenas elementos do roteiro que reforçam a artificialidade que não engaja, mas frustra a pretensão do espectador. Eu poderia me aprofundar no relacionamento interracial e interclasses entre Jessica e Gaia, que literal e metaforicamente, enquanto dorme, prende a namorada, agindo de modo tóxico sem a narrativa realizar qualquer apontamento. Ou na narrativa burguesa para branco assistir que entende que o racismo é resolvível em um dia e que os patrões vividos por Denis Podalydès e Virginie Ledoyen são pessoas boas que tratam Kheìdidja como membro da família.

Até não há a expressão corriqueira, mas, de um jeito particular, o diálogo está presente nas entranhas do roteiro. Um filme de festival por excelência, e não no bom sentido.

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