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Simple Comme Sylvain

3.5/5

Simple Comme Sylvain

2023

111 minutos

3.5/5

Diretor: Monia Chokri

A procura pela felicidade através da conciliação, às vezes impossível, entre amor, paixão, desejo e sexo é a matéria-prima de parte das comédias adultas, e Simple Comme Sylvain oferece a perspectiva feminina da diretora Monia Chokri rumo ao resgate do que é essencial na vida. Contudo, não adianta buscar o essencial se não se consegue identificá-lo, em meio ao acúmulo de afazeres familiares, sociais e profissionais que impedem o indivíduo de olhar para dentro de si.

É com esse desejo que o bem humorado e sexy roteiro escrito pela diretora investiga a vida íntima da professora de filosofia Sophia (Magalie Lépine-Blondeau), companheira há 10 anos de Xavier (François Létourneau), em um relacionamento que virou amizade em razão do comodismo. A encenação exagera, mas é parte da comédia exagerar, a distância entre o casal que dorme em quartos separados por uma parede que os empurra aos cantos da tela. Certo dia, Sophia conhece Sylvain (Pierre-Yves Cardinal), o carpinteiro responsável pela reforma da casa de férias do casal, e ele reacende a paixão dela. O adultério amadurece, ameaça o casal (que, convenhamos, nem existia mais) e ajuda Sophia a reconectar-se com a sexualidade.

A narrativa pega carona nos questionamentos existenciais propostos por Fleabag: será que a busca pelo prazer, e de certo modo por sentido, pode transformar Sophia em uma má pessoa? Mesmo em uma sociedade madura como é a canadense e com uma protagonista independente, ainda é difícil abandonar as regras tácitas que impõem comportamentos, concessões e sensibilidades por parte das mulheres. E Sophia, apesar de encantadora e hipnótica, é membro de uma elite intelectual dita progressista, mas chucra em como rebaixa quem desconhece quem é Schopenhauer, por exemplo. A atuação carismática de Magalie Lépine-Blondeau impele o espectador a participar ativamente da jornada de autodescoberta, que a obriga a decidir entre a conexão criada em uma década com Xavier, pela similaridade de gostos, ou o desejo impulsivo por Sylvain, a despeito da oposição de gostos.

Isso é feito com senso de humor afiado desde a cena inicial, em que um jantar de adultos regado a vinho, crítica e prepotência é comparado com o parque de diversão de crianças. A partir daí, a direção de fotografia de André Turpin já estabelece a construção visual com um conjunto de zooms e movimentos em direção ao rosto dos personagens, semelhante a The Office e Succession, que provoca desconforto, desconfiança e pontua as piadas do roteiro. Quando muito, esse estilo dinâmico e excessivo acompanha o turbilhão interior de Sophia, e basta perceber como o recurso é mitigado à medida que o novo relacionamento avança.

Além disso, Monia é hábil em brincar com as imagens. Em certo instante, o rosto de Sylvain é ocultado pelo espelho do carro; despersonalizado pois Sophia está junto do marido. Em outro momento, Xavier pede para dormir com a esposa e o corte seco subsequente o revela no chão, em posição fetal. Xavier não enxerga a esposa, mas a filha materna projetada via complexo edipiano. Por essa razão, as sequências do orgasmo feminino são importantes, destacando o prazer que havia sido negado à personagem (e, de maneira ampla, à mulher no cinema). 


Mesmo o emprego de Sylvain, hábil em consertar o que quer que esteja defeituoso, é útil à narrativa. À primeira vista, a sensação é de que o personagem está consertando Sophia; na realidade, a reflexão deveria ser o que restaria depois que está tudo consertado? Sylvain a auxilia a perceber o valor da simplicidade na busca pela essência e propósito. O conserto é o fruto do autoconhecimento de quem aprende que a vontade de sentir algo, nem que seja o frio e o gosto dos flocos de neve, deve partir de si.

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