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Horizonte

4.5/5

Horizonte

2023

108 minutos

4.5/5

Diretor: Rafael Calomeni

Após o funeral do patriarca, uma família rachada se vê obrigada a dividir a mesma casa. Sufocado entre agressões verbais e silêncios massacrantes, o irmão do falecido decide abandonar a moradia e assim encontrar um local de paz.

Horizonte possui dois filmes em um. O primeiro ato é um filme áspero e claustrofóbico. Ele se inicia com uma fotografia escura, em um cômodo indefinido. Uma conversa deslocada logo se transforma em um clima de tensão familiar a respeito da divisão dos espaços da casa herdada. Entre os elementos dessa trama de família, nosso olhar é atraído à figura de Ruy (Raymundo de Souza), um idoso deslocado no quadro e com um aspecto sem vida – quase como um zumbi.

Tudo indicava que Horizonte se concentraria nos conflitos dessa família e como se agridem até uma resolução ou um final trágico. Entretanto, o filme se converte em outro a partir do momento que Ruy se inscreve em um programa popular de moradia para idosos. Dá-se início então a um filme solar e alegre. Nesse novo espaço, podemos circular e identificar onde uma cozinha termina e uma sala começa. O ambiente não é mais lúgubre. A luz do sol permite que novas cores sejam experimentadas no lugar do cinza predominante na fotografia do ato anterior. Até mesmo o protagonista começa a se renovar, seja pelo trato de sua aparência e até pela reconstituição de sua postura corporal. O silêncio esmagador dá lugar à canção de violeiro, trazendo mais um elemento narrativo ao filme.

A canção Boneca Cobiçada, tocada e cantada por Ruy, é praticamente um personagem no longa. Ela marca também os melhores momentos de comédia, além de servir de ponte para o romance com a introdução de Jandira (Ana Rosa) à narrativa. A nova moradora é atraída pela música de seu vizinho, mas as interações entre eles são interrompidas abruptamente pela senhora. Entre tentativas frustradas de aproximação e sorrisos desperdiçados pelo personagem central, somos tomados por risadas instantâneas enquanto nutrimos esperança pela união desse improvável casal.

Horizonte é um filme cuja mise-em-scène parece discreta, mas merece ser observada. É possível traçar diversos paralelos entre os dois ambientes em que o filme se desenvolve. Entretanto, o primeiro ato se estende demais em um conflito que funcionará apenas como um MacGuffin. A supressão do núcleo de personagens que compõem a primeira terça parte do longa não me soa problemática devido ao caráter instrumental de que é preciso “abandonar” o peso desnecessário para poder seguir em frente.  Assim como não seria possível desenvolver a dinâmica triangular entre os dois vizinhos e a canção com um possível ruído provocado pela presença da família de Ruy.

Por fim, Horizonte nos deixa com um sabor doce ao fim da exibição. Ele nos oferece um sopro de esperança a respeito da vida, que pode reservar agradáveis surpresas quando não temos mais perspectivas. Trazer uma história centrada em um homem septuagenário também foi uma escolha incomum que deve ser destacada, dado o etarismo da indústria de entretenimento. É interessante como ele quebra o paradigma do amor na terceira idade, mostrando pessoas mais maduras se relacionando. E é delicioso assistir os atropelos desse romance, principalmente pelo carisma dos personagens magistralmente interpretados por Raymundo de Souza e Ana Rosa. O filme acaba nos oferecendo abundância de vida ainda que o início da jornada de Ruy seja amarrado ao espectro da morte. Por mais deslumbres de horizontes como esse.

Horizonte foi exibido na 2ª Edição do Festival de Cinema de Vassouras, e foi premiado com os troféus Grão de Ouro de Melhor Longa-Metragem, Melhor Direção em Longa-metragem (Rafael Calomeni), Melhor Atriz em Longa-Metragem (Ana Rosa) e Melhor Atriz Coadjuvante em Longa-Metragem Brasileiro (Alexandra Richter).

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8 comentários em “Horizonte”

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