Aumentando seu amor pelo cinema a cada crítica

Transformers: O Despertar das Feras

3/5

Transformers: Rise of the Beasts

2023

127 minutos

3/5

Diretor: Steven Caple Jr.

Apesar de adorar Bumblebee, o gosto amargo deixado pelos filmes dirigidos por Michael Bay me pegou desde o início de Transformers: O Despertar das Feras. Steven Caple Jr. (de Creed II), que herdou a cadeira de direção, repetiu a marca registrada de toda a série assim que o ex-soldado Noah (Anthony Ramos) tentou furtar inadvertidamente um carro porsche que, na realidade, era o autobot Mirage. Corta para o desavisado e desesperado Noah dentro de um carro que não pode controlar, enquanto é perseguido pela polícia.

Após meu suspiro de tédio, Transformers: O Despertar das Feras revelou-se uma aventura hollywoodiana despretensiosa. O raro filme consciente do que deseja alcançar, das limitações narrativas e da bagagem (negativa, para mim) que trouxe dos antecessores. O ainda mais raro filme que rejeita o atributo épico onde não há épico, eliminando 30-45 minutos de inchaço dos anteriores. 16 anos após o original de 2007 (à época, considerei um bom filme), O Despertar das Feras colocou a franquia no patamar de um entretenimento descompromissado, onde deveria estar.

O roteiro originalmente escrito por Erich e Jon Hoeber, reescrito por Josh Peter, e novamente reescrito por Joby Harold e Darnell Metayer é uma sequência genérica e informal de Bumblebee. Ele apresenta mais um artefato (a Chave Transwarp), que pode ser a oportunidade para que Optimus Prime e os Autobots retornem a Cybertron. Este artefato, dividido em duas partes, também é desejado pelos temidos e poderosos Terrorcons, muita areia para que os Autobots enfrentem sozinhos. É onde entram as feras do título, os Maximals, comandados por Optimus Primal (!). Em razão da convivência com o povo originário peruano, os Maximals desenvolveram um apego pela terra e juraram protegê-la. Já o elemento humano da equação são o ex-soldado Noah e a arqueóloga Elena (Dominique Fishback, da minissérie Enxame).

Cinco cabeças pensaram o roteiro, mas nenhuma percebeu que destruir uma estrada na montanha de Cusco não impediria os Terrorcons de perseguir os Autobots. Essas inteligentes cabeças também não entendem de gravidade. A mesma força que atrai Optimus Prime (que pesa algumas toneladas), não é forte o suficiente para atrair Noah (que pesa alguns quilos). Talvez eu esteja exigindo muito desses cinco heróicos roteiristas que, na ânsia de agitar a história, matam um dos únicos personagens cuja morte, por motivos evidentes, não carrega o mínimo peso dramático.

Desconfio que os roteiristas gastaram os neurônios na ideia (nada expositiva) de Noah repetir, em voz alta, o plano que havíamos escutado minutos antes. Ou na retomada das marcas registradas da série:a maneira com que o vilão Scourge (Peter Dinklage) fala a palavra Prime ou o monólogo final de Optimus Prime. 

Entretanto, o roteiro tem a boa ideia de desenvolver um Optimus Prime menos altruísta, que, levado pela culpa, pensa primeiro na salvação dos seus. E tem, em Noah, um reflexo. Noah retornou da guerra para descobrir que a América que deixou não se importa muito com a dor de sua família. Forçado ao crime, mas honrado, ele planeja destruir a Transwarp para não cair em mãos erradas. A ideia de sobrevivência é mediada por Primal, que acredita no meio termo. Somado a isso, a ambientação em 1994 atenua o ceticismo, desconecta e desvirtualiza a sociedade e ainda permite a integração entre natureza, povos originários e tecnologia representada por personagens. A fotografia documenta, mas não explora nem objetifica o Peru, onde parte da ação acontece. A época também é a chance para os roteiristas abrirem um baú de citações óbvias, mas saudosas, de Scarface a Questão de Honra.

Contudo, é da direção de Steven Caple Jr. o mérito de O Despertar das Feras entreter, no lugar de irritar. Ele é hábil em encenar as cenas de ação, tornando-as compreensíveis e não somente um apanhado de tiros, explosões e sucata voando, como na gestão de Michael Bay. A direção delimita a geografia da ação, identifica os personagens (mesmo havendo 13 robôs) e materializa as posições e interações entre eles. Se tropeça, é apenas na sequência do clímax, uma batalha campal genérica, em que os Maximals simplesmente desaparecem.

O diretor, junto ao time de design de produção e efeitos visuais computadorizados que conferiram um visual vintage e mais colorido aos personagens, não se embaraça em referenciar escancaradamente O Senhor dos Anéis na construção feita por Scourge, Homem de Ferro, a aparência de Ultron em Vingadores: Era de Ultron e mesmo o Galactus do Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado ao imaginar o visual do vilão Unicron. A década ajudou. Era um período de aventuras cinematográficas descomplicadas, de heróis relutantes e vilões às claras, e que encantava com a inocência com que enxergava o mundo antes da virada do milênio. Não havia universos compartilhados nem multiversos.

Ao menos até o epílogo.

Transformers: O Despertar das Feras está em exibição nos cinemas.

Compartilhe

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você também pode gostar de:

Críticas
Marcio Sallem

Occupied City

Antes do cinema ser uma arte predominantemente narrativa,

Rolar para cima