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Perdidos na Noite

3/5

Perdidos na Noite

2022

120 minutos

3/5

Diretor: Amat Escalante

Em seu novo longa, Amat Escalante traz a luta de classes como fio condutor de sua trama de violência. Ambientado em um vilarejo minerador, Perdidos na Noite acompanha o jovem Emiliano em sua busca por justiça pelo desaparecimento de sua mãe, uma professora ativista que era contrária às atividades da mina. Mediante uma pista, o caminho de Emiliano e sua namorada se cruzam com o da rica família Aldama, composta por um artista visual, sua esposa famosa, sua filha adolescente influencer digital e a caçula ainda criança.

O infiltrar-se na casa dos Aldama e o clima de desconfiança, vigilância e perigo fazem com que Perdidos na Noite remeta um pouco a Parasita, de Bong Joon-Ho. O isolamento da família e seu encarceramento dentro dos espaços da casa promovem uma sensação de cerco que aumenta a expectativa de uma invasão ou da revelação de algo oculto, como a abertura de uma caixa de pandora. O abismo existente entre os lados se alterna conforme as ações do rapaz fazem com que ele ganhe a confiança da família. Os indícios do envolvimento dos Aldama com o desaparecimento da mãe do jovem vai se tornando cada vez mais óbvio com o passar do filme. Mas, enquanto tenta investigar a respeito da família e a casa onde moram, O garoto acaba se aproximando também da filha do casal.

Os Aldama encaixotados no quadro

A família rica de aparência perfeita não consegue esconder suas erosões que acabam dando margem a um aprofundamento na personagem de Mônica, a filha influencer digital. Apesar de uma primeira impressão fútil e alienada, ela será responsável pela diluição da lógica “nós contra eles” do protagonista. Principalmente com o evoluir da tensão sexual que existe entre os dois. Outro personagem que traz uma certa ambiguidade é Rigoberto. O artista, apesar de carregado de hostilidade, acolhe o jovem conforme sua confiança no mesmo se desenvolve. Mas uma subtrama envolvendo uma comunidade local que nutre ódio pelo patriarca por profanar o cadáver de seu líder que faz o filme se desviar e dá os primeiros passos para tornar o personagem ridiculamente autocomiserativo.

A tensão sexual pulsante entre Mônica e Emiliano, que sobrepõe sua rixa.

Apesar de em menor grau que em suas últimas empreitadas, Amat Escalante explora a violência em tela para contrastar sua filmagem contemplativa. O filme já começa exibindo brutalidade policial de forma gráfica. Ainda que a tensão do filme se dê pela presença vigilante do policial da primeira cena e o risco iminente em Emiliano ter suas reais intenções descobertas, o filme acaba perdendo seu impacto. O diretor procura ilustrar o caos que cerca aquele cenário inserindo micro eventos de violência, como a exploração da classe trabalhadora que culmina na queda de um amigo de Emiliano, o velório de uma criança vítima de uma bala perdida ou o ingressar de Emiliano em um grupo de adolescentes armados. Ainda que apontem a efervescência de um conflito entre os moradores locais com os Aldama, esses eventos não se desenvolvem e acabam por soar descartáveis para a trama principal.

Perdidos na Noite consegue hipnotizar o olhar do espectador através da tensão enquanto acompanhamos Emiliano em sua busca por justiça social. As situações de perigo em que o adolescente se coloca e a sua namorada fazem com que esperamos que as piores consequências sejam exibidas em seguida em tela. Ainda mais quando já estamos familiarizados com as inclinações extremas do diretor. Apesar de tirar o peso da mão no que diz respeito à violência gráfica, Escalante opta por manter na narrativa cenas desnecessárias que denunciam seu male gaze. Mas o maior incômodo sobre o filme é a respeito das escolhas previsíveis no desenrolar do roteiro. O terceiro ato do filme enverada pelo óbvio e incorpora soluções simples, como uma influencer digital usar seu alcance para escancarar a verdade sobre sua família. Seu suicídio é esperado, ainda que o diretor opte por filmá-lo em câmera lenta tentando elevar a dramaticidade. Até mesmo o desenvolvimento do arco dramático de Emiliano acabou culminando no senso comum de qualquer adolescente. Enfim, Perdidos na Noite se inicia como uma panela de pressão prestes a explodir, mas que se amorna com o avanço da trama.

Perdidos na Noite foi exibido na Premiere Latina do 25º Festival do Rio.

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