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Meu Filho, Nosso Mundo

3.5/5

Meu Filho, Nosso Mundo

2023

101 minutos

3.5/5

Diretor: Tony Goldwyn

A estrutura de road-movies está relacionada à transformação de seus protagonistas e aqui não seria diferente. A paternidade é um tema que já foi abordado por diversos filmes ao longo do cinema e com diferentes configurações. A figura paterna pode não ser o próprio genitor, como o clássico O Paizão, de Adam Sandler, mas é algo colocado diante do protagonista e exige dele um amadurecimento tardio.

Em Meu Filho, Nosso Mundo, acompanhamos Max (Bobby Cannavale), um comediante de meia idade que fracassou na profissão e na família, e que ainda mora com seu velho pai (Robert DeNiro). Ele não concorda com Jenna (Rose Byrne), sua ex-esposa, sobre a melhor maneira de proceder com a educação e terapia de Ezra, filho de 11 anos e diagnosticado com autismo. Em uma ação impensada, Max parte como menino em uma viagem de carro para encontrar um novo local para criar seu filho à sua maneira.

Um momento pai e filho trazendo de volta O Grande Lebowski às telas

Aqui acompanhamos as dificuldades na criação de uma criança no espectro autista. O que não existe um protocolo padrão. Afinal, o próprio nome “espectro autista” abarca uma infinidade de possibilidades de manifestações e com diferentes necessidades de suporte. Enquanto a mãe está disposta a trilhar uma abordagem com intervenção medicamentosa e em um ambiente adaptado às peculiaridades de Ezra, Max acredita que esse olhar o distancia do mundo e foca em suas limitações ao invés de explorar suas potências. Porém, Max também precisa lidar com questões relacionadas à sua criação, sua dinâmica com seu pai, a não superação de seu divórcio e um aparente trauma com o abandono de sua mãe. Em paralelo, sua careira como comediante está começando a receber alguma atenção, o que o coloca no dilema entre dar atenção ao seu desenvolvimento profissional e às necessidades de seu filho.

Ainda que Meu Filho, Nosso Mundo não se aprofunde nos esforços da mãe e o seu empenho na criação de Ezra, a obra não insiste em vilanizar a personagem de Byrne, como aquela que deseja afastar pai e filho não importa como. Mas o filme coloca sobre o pai a responsabilidade sobre seu temperamento intempestivo e errático. Ainda que possa parecer um pouco mais atenuada, ela não é condescendente. O processo de transformação das figuras paternas passa sim por momentos dolorosos e reconhecimento de culpa. Bobby Cannavale está impecável em nos transmitir esse tormento pessoal de auto culpa e expiação dos pecados que sua personagem passa. Aliás, sua interpretação é um dos pontos mais altos do longa, rendendo momentos tocantes que nos deixam com olhos marejados.

Por falar nas interpretações do elenco principal, o pequeno William A. Fitzgerald nos emociona ao mesmo tempo que confere verossimilhança à história (o ator mirim possui o mesmo diagnóstico que seu personagem). A interação junto a Canevale é tocante. E para elevar o nível, essa família disfuncional ainda conta com De Niro como Vovô Stan, o Pop-pop (onomatopeia referente à socos, no original). Apesar do veterano estar atuando de forma confortável, mostra sua magnitude em uma cena de poucos segundos envolvendo um momento de perdão. O filme também nos oferece rever a também veterana Whoopi Goldberg, que já havia tempos estar afastada da tela grande, no papel da agente do comediante. Rainn Wilson e Vera Farmiga complementam o elenco de apoio como velhos amigos e conselheiros de Max.

Rainn Wilson (The Office) e Whoopi Goldberg (Ghost – Do Outro Lado da Vida) / imagem: divulgação

O longa nos coloca como observadores das ações de Max e também nos oferece um pouco da perspectiva de Ezra. Sua experiência, em alguns momentos, é emulada em tela. A direção nos permite experimentar um pouco das vivências sensoriais do garoto. Isso através do som e do uso da câmera na mão e à altura dos olhos de uma criança, exacerbando estímulos visuais e sonoros. Essa sensibilidade talvez seja possível, além da presença de Firtzgerald, pela vivência do roteirista Tony Spiridakis, do produtor William Horberg, além do próprio De Niro, serem pais de autistas. O que também explica o foco sobre a experiência da paternidade.

A lição que o filme deixa é que pais nascem, mas também renascem. E, quando feito de maneira legítima, pode-se dizer que muitos erram buscando acertar. Sendo assim, a cura para essa família disfuncional passe por um amadurecimento dos genitores, mas também pelo acolhimento de todos os envolvidos. Meu Filho, Nosso Mundo me toca em um lugar pessoal, já que meu irmão Arthur (27) está dentro do espectro. Mas acredito que consiga atingir genuinamente o público em geral. Principalmente pela dose de neurodivergencia pouco usual às histórias de família que os comerciais de margarina e os filmes natalinos de Hollywood costumam oferecer.

Meu Filho, Nosso Mundo estreia dia 15 de agosto nos cinemas.

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