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Homem-Aranha: Através do Aranhaverso

4.5/5

Homem-Aranha: Através do Aranhaverso

2020

136 minutos

4.5/5

Diretor: Joaquim Dos Santos, Kemp Powers e Justin K. Thompson

Diversidade é aliada na busca pelo que torna o Homem-Aranha um herói único.

Em dezembro de 2021, Tom Holland, Tobey Maguire e Andrew Garfield, os três atores que encarnaram o super-herói mais popular do mundo nos cinemas se reuniram para o que foi descrito como “o maior evento cinematográfico desde Vingadores: Ultimato” em uma dessas manchetes superlativas que vão se acumulando a cada novo lançamento da Marvel. O resultado foi um filme visualmente insosso, escuro e feio, mas que encontrou seus bons momentos em algumas referências jogadas aqui e ali e por trabalhar tematicamente para buscar a essência do que torna esse personagem icônico tão apaixonante. Naquele momento os três atores/personagens que travavam essa discussão tinham um perfil muito parecido.

Menos de dois anos depois, cerca de duzentos “Homens (e Mulheres)-Aranha” de várias cores, origens, perfis, tamanhos, pesos, etc, apontam um para o outro fazendo referência ao famoso meme que circula aí pela internet há anos. Dessa vez o filme é outro, bem diferente. Colorido, cheio de vida, uma explosão de criatividade pulsando na tela. O tema, porém, é o mesmo. O que faz do Homem-Aranha uma figura tão apaixonante? Dessa vez o diálogo é mais amplo, diverso e mais interessante de acompanhar.

“Homem-Aranha: Através do Aranhaverso”, novo lançamento da Sony em parceria com a Marvel Studios dá continuidade a um caminho que se iniciou em 2018 com “Homem-Aranha no Aranhaverso” dos mesmos produtores. Um filme que deu uma chacoalhada estética em dois grandes nichos do cinemão norte-americano. O primeiro, o cinema de heróis, desgastado por anos e anos de “live-actions” que seguem um mesmo padrão visual/narrativo construído ao longo de uma década de UCM. O segundo, o mercado das animações, marcado também por um monopólio da mesma empresa (a Disney) que através de seus dois principais estúdios de animação (Disney Animations e Pixar) definiram mais um padrão, principalmente a partir de “Toy Story” (1995), seguido mesmo pelas empresas concorrentes. 

Essa chacoalhada veio através de uma mistura de diversas linguagens e técnicas de animação que eu não saberia explicar, mas que conferem ao filme um estilo único, livre, que faz referência direta ao visual das histórias em quadrinhos. Parece realmente que as ilustrações saem do papel e ganham movimento, se materializando nas telas. “Animação estilo Aranhaverso” virou expressão comum de lá pra cá pra definir trabalhos que acompanham essa tendência, em um mercado que passou anos obcecado pelo realismo. Em que sinônimo de qualidade era conseguir ver os poros da pele dos personagens animados – me lembro muito de imagens de Os Incríveis 2 que demonstravam assim a potência de renderização dos estúdios Pixar – e se esqueciam da liberdade que só a animação pode oferecer para explorar cores, estilos e movimentos.

O sucessor de 2023 vai pelo mesmo caminho do Aranhaverso, aprofundando essa liberdade visual ainda mais ao estabelecer identidades próprias para cada um dos universos ilustrados no filme. O destaque absoluto nesse sentido é o universo habitado pela “Gwen Stacy Aranha” que co-protagoniza o longa. Nesse universo as formas são abstratas, as cores se modificam de acordo com as emoções dos personagens, em especial de acordo com a relação entre a menina e seu pai. Tudo é fluido, tudo se molda ao que está no primeiro plano. Os primeiros 15 minutos de projeção são algo quase experimental visualmente, aplicado a um enredo que conhecemos bem: a história de origem de mais um Aranha.

Essas origens se multiplicam à medida em que vamos conhecendo as novas encarnações do herói que se apresentam. Hobie Brown, o Punk-Aranha, Pavitr Prabhakar, o Homem-Aranha indiano, Miguel O’Hara, o Homem-Aranha vampiro de 2099, Jessica Drew, a Mulher-Aranha… Esses são alguns dos novos personagens, cada um com seu estilo de animação integrado ao todo com maestria, assim como aconteceu com os personagens do primeiro filme. Isso revela que apesar das diferenças e das peculiaridades de cada um, ilustrada a partir de uma grande diversidade nas representações do herói,  há algo que os une.

Ao contrário da maior parte das grandes produções que se propõem a falar de diversidade de forma esvaziada, só pra cumprir com uma demanda de mercado, aqui esse discurso tem muito a ver com a essência da obra. Se a busca é pelo que faz do Homem-Aranha um personagem único, a diversidade serve para sinalizar que mesmo levando em conta todos esses fatores que são importantes e diferenciam as encarnações do herói ao longo dos anos, o que os une é uma série de valores mais profundos.

Esses valores são marcados por pontos em comum na história desses personagens. A famosa frase do Tio Ben talvez seja o mais célebre desses pontos, mas há outros que vão moldando o caráter do Aranha e o transformando nessa ponte entre o ordinário dos problemas mais mundanos e cotidianos, e o extraordinário dos super-poderes e lutas de tirar o fôlego. Fatores que nos trazem identificação, ao mesmo tempo que empolgam pela riqueza de possibilidades oferecidas pelos poderes peculiares do herói.

“Através do Aranhaverso” explora essas possibilidades todas com criatividade, através da adição de um vilão também  peculiar. Mancha começa como uma caricatura de vilão, com poderes que abrem ainda mais possibilidades visuais para o filme inicialmente como algo quase inofensivo e engraçado. À medida em que a narrativa se aprofunda, o antagonista a acompanha se tornando uma ameaça sombria e poderosa.

Se há algo que incomoda aqui é o final, ou melhor, o “não final” do longa, no melhor estilo “continua no próximo episódio” – com o título já revelado “Beyond The Spider-Verse”. Mas até isso pode ser encarado como uma referência divertida e ligeiramente irritante ao mundo dos quadrinhos, onde histórias são episódicas, onde a próxima edição traz sempre respostas e novas perguntas. Pelo menos, mesmo que incompleta, a jornada nessas mais de 2h de projeção é mais do que satisfatória. Com toda certeza a franquia “Aranhaverso” entendeu da forma mais criativa possível que “com grandes poderes, vem grandes responsabilidades”. Até aqui não decepcionou.

Márcio Sallem escreveu uma crítica sobre o filmeLeia clicando aqui.

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