Aumentando seu amor pelo cinema a cada crítica

Bruna Linzmeyer | Entrevista

por Natália Bocanera, crítica correspondente do Cinema com Crítica na 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes

A Mostra de Cinema de Tiradentes, tradicionalmente, presta homenagens a nomes expressivos e relevantes ao cinema brasileiro. Em 2024, foram celebrados o cineasta André Novais Oliveira e a atriz Bárbara Colen, ambos mineiros. A 28ª edição do evento escolheu honrar a atriz catarinense Bruna Linzmeyer, que estreou sua carreira na televisão em 2010, na novela Afinal, o que querem as mulheres?, de Luiz Fernando Carvalho. Em 2013, iniciou no cinema com o estrangeiro Rio, Eu te Amo, e atualmente, completando 15 anos de uma consolidada carreira, guarda em sua filmografia a realização de mais de 20 filmes, muitos deles exibidos nas edições anteriores da mostra mineira. Durante a cerimônia de sua homenagem, a atriz recebeu, muito emocionada, o prêmio das mãos de seus pais, Rosilete dos Santos Linzmeyer e Gerson Linzmeyer, e teve oito de seus filmes exibidos na programação do evento: Baby, A Frente Fria que a Chuva Traz, Alfazema, Medusa, Notícias Populares, O Grande Circo Místico, Se eu Tô Aqui é por Mistério e Um Paciência Selvagem me Trouxe Até Aqui.  Bruna conversou com o Cinema com Crítica em Tiradentes:

Natália Bocanera: Bruna, durante sua homenagem você trouxe que nunca sonhou em ser atriz, e que foi a primeira de sua família a trabalhar com atuação. Quando foi que você percebeu que a atuação era um caminho e como foi essa construção?

Bruna Linzmeyer: Eu percebi quando eu consegui pagar minhas contas! Eu quis muito sair da cidade pequena e estava disposta a muitas coisas para poder manter esse desejo, esse sonho de sair da cidade pequena, e eu tive o privilégio de conseguir pagar minhas contas como atriz. Eu não ganhei dinheiro como modelo em São Paulo, passei um ano gastando todas as economias dos meus pais, mas eu começo a ganhar dinheiro como atriz quando eu vou trabalhar na televisão. Então, ali eu entendo “ah, ótimo, então posso seguir nesse caminho”. E é claro, também, esse primeiro trabalho que eu fiz na televisão foi  muito especial, era um projeto do Luiz Fernando Carvalho, que é uma pessoa que acredita muito em ensaio, eu tive aula de canto com a Agnes Moço, aula de Commedia dell’arte com a Tiche Vianna, tudo isso era parte da preparação para essa série que eu fiz. Aí eu fui mordida por esse bichinho gostoso que é de ensaio, preparação e pesquisa, desde lá do início.

Natália Bocanera: Você é uma força do cinema brasileiro. O público vai aos cinemas especificamente para te ver nas telas, e esse carinho pôde ser muito sentido aqui em Tiradentes. Homenagear sua carreira é um presente também para todas as pessoas que acompanham seu trabalho. Como é, para você, como mulher latino-americana, ocupar esse espaço e como você pensa seu papel político de representatividade no cinema nacional? 

Bruna Linzmeyer: Puxa, obrigada, eu não tinha pensado nisso, que, de certa forma é um presente, um carinho para o público também, para o meu público, que me acompanha nessa homenagem. É bonito pensar desse jeito porque, no fim das contas, a gente faz filmes para as pessoas verem. E sim, eu fui muito bem recebida aqui. Foi bonito demais, emocionante mesmo, abraçar as pessoas nas ruas, e as pessoas falaram “Nossa homenageada!”. É muito, muito, muito emocionante, eu acho que eu me vejo como uma atriz, como uma artista que está pensando o que os filmes que eu faço significam no mundo e com quem eu estou dialogando quando eu faço esses filmes. Então, tem me interessado muito essas narrativas, dessas mulheres brasileiras que são as personagens que eu interpreto. E eu tenho conseguido me conectar com outros artistas, cineastas que estão pensando, dialogando com esse público que está aqui me abraçando, estão dialogando com as pessoas, com esse tempo que a gente vive, tanto de divertir, de entreter, mas às vezes emocionar, de fazer pensar. O cinema é um espaço onde a gente pode pensar sobre a gente mesmo, sobre a gente enquanto sociedade, um lugar onde a gente pode relaxar, e às vezes entender coisas sobre a nossa própria vida através da vida de uma personagem que você assiste na tela. Eu tenho encontrado pessoas muito inteligentes, interessadas tanto quanto eu nesse fazer do cinema. O cinema brasileiro é um item de pesquisa, eu pesquiso isso, me interesso por isso,  eu vou aos festivais, eu acompanho os filmes. É uma paixão que eu tenho e também uma profissão, é um envolvimento muito grande e acho que significa muito socialmente, porque cultura é um investimento que a gente faz, mas a colheita não é linear, a colheita vem a longo prazo, vem em forma de pertencimento, em forma de construção da história de um país. A cultura é muito poderosa, mas nem sempre a gente consegue enxergar, passo a passo, o poder que ela tem. Mas é muito bonito, nesse tipo de momento, quando esses carinhos acontecem, quando a gente lança um filme, e as pessoas saem emocionadas no final da sessão, a gente entende um pacto e o tamanho que a cultura tem.

Natália Bocanera: No ano passado você esteve no Festival de Berlim com Cidade; Campo, e esse ano seu novo trabalho, Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente, foi selecionado para a Berlinale Series Market. Nós assistimos a um trechinho da série na cerimônia de homenagem e tivemos uma amostra da densidade dos assuntos que serão ali abordados. Conte um pouco para nós de suas expectativas com relação à série e as reflexões que possivelmente vai causar, e sobre sua presença, novamente, no festival.

Bruna Linzmeyer: Nossa, é muita emoção! Ano passado eu estive em três dos grandes festivais internacionais, Rotterdam, com Se eu tô aqui é por mistério, que é um curta-metragem, no Cidade; Campo na Berlinale e com Baby em Cannes, na Berlinale e em Cannes, ainda, premiados, a gente sai do festival com prêmio na mão. O cinema brasileiro é muito prestigiado ao redor do mundo, tem muita força. Eu não sei nem descrever, é um orgulho imenso, eu nunca imaginei que tudo isso pudesse estar acontecendo na minha vida. Eu estou muito feliz que a série foi selecionada para o Festival de Berlim, acho que isso traz uma força pro lançamento dela que é esse ano no Brasil, a gente estreia esse ano na Max. É uma série muito emocionante, desde os roteiros, eu chorava lendo, me emocionava lendo, os episódios são muito prontos. Eu acho que é muito bonito a gente tocar e contar a história, nessa série, histórias reais, de pessoas que, de fato, contrabandeavam AZT para conseguir salvar vidas no Brasil. São herois da nossa história, e através da série a gente vai poder também homenageá-los, mas dar luz a essa narrativa que nos trouxe até aqui. Eu estou muito entusiasmada com o lançamento da série, eu acho que ela vai gerar bastante emoção, mas também boas conversas entre a gente.

Compartilhe

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você também pode gostar de:

Críticas
Alvaro Goulart

Kasa Branca

“Não tem mais jeito, Dé” Em alguns momentos

Rolar para cima