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Missão Madrinha de Casamento

Missão Madrinha de Casamento (Bridesmaids), 2011, Estados Unidos. Direção: Paul Feig. Roteiro: Kristen Wiig, Annie Mumolo. Elenco: Kristen Wiig, Maya Rudolph, Rose Byrne, Melissa McCarthy, Ellie Kemper, Wendi McLendon-Covey. Duração: 132 minutos.
Nos últimos anos, uma grande parte das comédias norte-americanas bem sucedidas têm o dedo de Judd Apatow, algumas vezes sentado na cadeira de direção (O Virgem de 40 Anos, Ligeiramente Grávidos), mas na maioria cuidando da produção (Superbad – É Hoje!, Quase Irmãos). Completamente distintas umas das outras, elas têm a marca registrada de Apatow, ou seja, transformam uma premissa convencional em um estudo de personagens interessantes e um mergulho cultural, sobretudo, na faixa etária do adulto médio, cuja vida não deslanchou como sonhara nos tempos de faculdade e nem tampouco encontrou o amor da sua vida para acordar ao seu lado todas as manhãs. São comédias humanas, combinando dramas reais com situações inusitadas, escrachadas, escatológicas e hilárias, o que explica em parte o gigantesco sucesso de Missão Madrinha de Casamento nas bilheterias. A outra parte, claro, deve-se a uma atuação extraordinária de Kristen Wiig e a co-autoria do roteiro.

Kristen é Annie, uma balzaquiana surpreendida com a notícia do noivado de sua melhor amiga Lilian (Maya Rudolph). Convidada para ser a madrinha de honra do casamento, que nas terras ianques corresponde a quem organiza as festividades prévias, como o chá de panela e a despedida de solteiro, além de estar junto à noiva nos momentos mais importantes, especialmente na prova do vestido de casamento, Annie junta-se a outras adoráveis madrinhas, a perua competitiva Helen (Rose Byrne), a frustrada mulher de família Rita (Wendi McLendon-Covey), a recém casada Becca (Ellie Kemper) e a gordinha tarada Megan (Melissa McCarthy, excepcional), para organizar, literalmente, um casamento inesquecível para Lilian. Para ter uma uma vaga idéia da reunião dessas mulheres, imagine o que aconteceria se, despedidas de toda a futilidade, a trupe de Sex and the City encontrasse os rapazes de Se Beber não Case.
Naturalmente, de fácil identificação com o público, Annie não se recompôs da devastadora crise econômica mundial que fechou as portes de sua loja de bolos. Além disso, presa a um relacionamento casual cuja única recompensa é o sexo, é irônico que o seu emprego seja justamente em uma joalheria auxiliando casais a escolher a aliança mais bonita para selar um compromisso de vida eterna. Enfrentando dificuldades para pagar o aluguel e consertar as lanternas de freio do carro, Annie ainda compete com a riquinha perfeitinha Helen pelo coração de melhor amiga. Exige-se demais da bem intencionada, mas emocionalmente abalada Annie, eventualmente referida como “madrinha da desonra”, um trocadilho imediato, mas relevante.
Portanto, é de Kristen Wiig e do diretor Paul Feig, do seriado The Office, os méritos pela transformação de Annie em uma pessoa que rapidamente se torna querida ao público, apesar de meter os pés pelas mãos, cometer gafes e envergonhar os outros e a si mesmo no processo. Doce e afetuosa com a amiga, ressaltado pelo presente do chá de panela, e desesperada em pôr a vida nos trilhos, financeira e amorosamente, ela arranca risadas fartas e altas ora tentando chamar a atenção de um policial das maneiras mais inusitadas (e ilegais), ora extrapolando no escândalo na festa parisiense.
A narrativa, outrossim, segue um esquema de sketch comedy com ótimas e extensas vinhetas, construídas com parcimônia e inteligência por Paul Feig. Quando as garotas vão a uma loja de vestidos de casamentos, após um almoço em um restaurante brasileiro, Feig tem a inteligência de contrastar o ambiente acéptico e puro com a crescente indisposição (um termo deveras educado), ressaltado pelo suor ou a vermelhidão na pele de Megan. O resultado ultrapassa os limites da escatologia e do humor de banheiro, e normalmente eu reclamaria, mas quando uma personagem afirma que algo “está saindo de mim como lava”, é difícil o espectador não se desembestar em histéricos risos. Em outro momento, no avião a caminho de Las Vegas, Feig desenvolve calmamente a esquete, estabelecendo os elementos com genuína paciência: Megan acredita que o vizinho da poltrona é um agente disfarçado, Rita e Becca expõem as suas frustrações e Annie, que tem fobia de avião, e é a única na classe econômica, mistura alguns relaxantes com álcool. O resultado é um clímax hilariante e o melhor momento do filme.
Logo, quando quer ser engraçado, Missão Madrinha de Casamento é a melhor comédia do ano. Porém, entre cada excelente vinheta – me recordo de rir alto em 6 momentos distintos -, o roteiro também de Wiig e Annie Mumolo introduz alguns elementos ou desnecessários ou estendidos além do necessário. No aspecto romântico, o namoro de Annie e o policial Rhodes (Chris O’Dowd) simplesmente não tem alma ou emoção e acaba funcionando quase como espécie de redenção ou prêmio de consolação para a moça; além disso, as participações de dois colegas de quarto bizarros poderia ser esquecida na sala de projeção por não acrescentar nada ao andamento da narrativa. Finalmente, embora tenha adorado o duelo de Annie e Helen durante o brinde das noivas, o subtexto do conflito das duas pela amizade de Lilian é ligeiramente exagerado e basta observar uma partida de tênis completamente sem graça para entender o que eu estou dizendo.
Alçando Kristen Wiig à protagonista e prometendo um futuro brilhante à comediante, afora coadjuvante de luxo, e apresentando ótimas intérpretes mais conhecidas da televisão, Missão Madrinha de Casamento é até extenso demais, e poderia limar um pouco da gordura, mas o sucesso do filme, que conquistou o público semana após semana nas bilheterias com um positivo boca a boca não é ao acaso, e comprova o dedo de Midas de Judd Apatow nas comédias adultas norte-americanas. 
Carrie Bradshaw e suas amigas deveriam aprender um pouco mais com essas madrinhas de casamento… ao invés de fúteis, consumistas e anencéfalas, elas seriam certamente mais divertidas, engraçadas, desbocadas, politicamente incorretas e escrachadas. Qual homem que não sonha com uma mulher dessas?
 

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