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Bad Boys Para Sempre

Bad Boys para Sempre

124 minutos

A saída de Michael Bay do comando de franquias de ação parece ser uma alternativa viável para que estas amadureçam além da puberdade em direção a temas adultos sérios. Foi o que aconteceu com o ótimo Bumblebee e agora com o igualmente satisfatório Bad Boys para Sempre, que marca o reencontro de Will Smith e Martin Lawrence 17 anos após a sequência desastrosa que havia enterrado a carreira dos detetives de Miami que, há 25 anos, serviram de trampolim para que ambos atores, um melhor sucedido do que outro, alcançassem o topo da indústria cinematográfica. E, por mais que pareça que a conclusão da trilogia seja uma espécie de porta de entrada para uma outra aos moldes da “saga” Velozes & Furiosos, não deixa de ser reconfortante assistir a uma comédia de ação que acerta neste e naquele gêneros, enquanto desenvolve seus personagens além do lugar-comum.

Mike e Marcus têm mais tempo vivido do que lhes pela frente e começam a sentir os efeitos deletérios da idade – os óculos viraram um item indispensável –, embora aquele mantenha o mesmo estilo jovial, desapegado e irresponsável, que não muda mesmo após ser vítima de um atentado a sangue-frio praticamente mortal que o coloca em recuperação por seis meses. A mandante é Isabel (del Castillo), a viúva de um chefão do cartel mexicano, que escapou da prisão onde cumpria pena perpétua e planejou uma vingança contra as autoridades que a colocaram detrás das grades, recorrendo à ajuda do filho, Armando (Scipio), que logo assume o controle do tráfico de drogas em Miami. Por esta razão, a contragosto do Capitão Howard (Pantoliano), Mike candidata-se a auxiliar na investigação junto à equipe de elite AMMO, que utiliza tecnologia de ponta para otimizar o trabalho policial e minimizar perdas humanas.

Oportuno reparar que, na superfície, o roteiro escrito a seis mãos por Chris Bremmer, Peter Craig e Joe Carnahan reconhece a necessidade de um polícia mais eficiente e menos violenta e letal, apesar de confessar que este desejo nem sempre seja possível contra criminosos que não pregam as mesmas regras. Assim, por mais que pareça covardia narrativa que um personagem abra mão de uma promessa por uma retórica vazia e desista de “penetrar a alma do adversário com o coração”, isto não chega a ser um demérito, afinal ninguém espera que Mike e Marcus comecem a agir como ‘bons garotos’. É, sim, qualidade que Marcus confidencie não frequentar a igreja o quanto gostaria por descumprir um dos mandamentos bíblicos. Da mesma maneira, o funcionamento da AMMO está mais alinhado à lei e ordem do que a justiça pelas próprias mãos.  

Enquanto isso, os diretores Adil El Arbi e Bilall Fallah são coerentes em preservar a estética visual dos filmes anteriores: a fotografia de Robrecht Heyvaert investe na mescla entre tons amarelos e roxos a fim de retratar os dias ensolarados de Miami e a vida noturna. Já a montagem de Dan Lebental e Peter McNulty continua apostando no excesso de transições descoladas, como as cortinas e aproximações, mas podam o ritmo insano herdado de Michael Bay com o objeto de compor cenas de ação que podemos curtir por conseguirmos discernir o que está acontecendo, quem está atirando em quem e onde cada personagem está posicionado no quadro. Além disto, é sempre positivo quando uma narrativa do gênero ilustra com clareza as consequências das ações violentas dos personagens, evitando que o espectador fique entorpecido com as mortes higienizadas comuns em filmes com censura para menores e perceba o rastro de sangue deixado detrás.

Contudo, o trunfo da franquia ainda está na dinâmica explosiva e bem humorada entre Mike e Marcus, tendo este o óbvio papel de ser o alívio cômico e aquele de proporcionar mais ângulo emocional à narrativa que lhe é pessoal até demais. Não faltam momentos genuinamente de rachar o riso, seja qual for seu estilo de humor, pois construídos com inteligência e executados no timing adequado por Martin Lawrence. Aliás, enquanto escrevo, sorrio sozinho ao recordar do comentário feito depois de um criminoso fugir prodigiosamente de uma emboscada (“Falei que ele era um atleta”), a punchline da piada iniciada despretensiosamente momentos antes, quando Marcus comentou que havia treinado o bandido na infância e o colocado no banco por ser indisciplinado.

Agora, de que adianta fortalecer a musculatura emocional dos personagens se os antagonistas são os mesmos mexicanos unidimensionais e clichês de sempre, como Isabel, ou melhor La Bruja (os roteiristas estão de parabéns por este apelido original). A propósito, é emblemático que a narrativa associe a religiosidade dela – que ora diante de uma imagem cadavérica pela morte de seus inimigos – à de Marcus – que reza pelo amigo dentro de uma igreja –, um comentário assertivamente preconceituoso que relaciona uma religião à virtude e bondade, dando ares supersticiosos à outra. E por mais que aprecie o monólogo emocional de Joe Pantoliano durante um dia pacato, é incômodo constatar que este está a serviço de um dos clichês mais batidos do gênero permitindo que antecipemos, com facilidade, o que ocorrerá na cena seguinte.

Com uma maturidade que, confesso, não esperava encontrar a esta altura da franquia, “Bad Boys para Sempre” comprova não ser difícil bolar uma comédia de ação ágil, empolgante, divertida e bem menos inconsequente do que foi um dia, sem abrir mão de que, no centro, não estejam meros avatares de videogame, mas seres humanos sujeitos a alegrias e tristezas que precisam ser retratadas e sentidas por nós para dar sentido ao nosso investimento.

Afinal, por melhor que seja o entretenimento, quando acompanhado de personagens com os quais podemos nos relacionar e por eles nos importar, o resultado tende a ser melhor. Quem sabe sentado do lado de fora, no banco de reservas, Michael Bay possa aprender esta lição.

P. S. Por falar no diretor, este faz uma pequena participação no casamento da filha de Marcus.

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