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Crítica | Qualquer Gato Vira-Lata


Qualquer Gato Vira-Lata (Brasil, 2011). Direção: Tomas Portella, Daniela de Carlo. Roteiro: Cláudia Levay, Júlia Spadaccine. Elenco: Cléo Pires, Malvino Salvador, Dudu Azevedo. Duração: 100 minutos. Cotação: 2 estrelas em 5).

Enquanto cineastas como Walter Salles, Fernando Meirelles e José Padilha contibuem para a ampliação do reconhecimento da produção nacional no exterior e inspiraram uma infinidade de cineastas a fazer o mesmo, através de uma linguagem cinematográfica ousada e inovadora, outros como Daniel Filho e Guel Arraes bebem da mídia televisiva para dirigir obras de grande apelo popular, mas não por causa de sua qualidade, e sim por se tratar de uma versão sucinta com rostos famosos da rede Globo.

Membro do segundo grupo, Qualquer Gato Vira-Lata tem uma história simples: Tati (Cléo Pires) é uma universitária de classe média que toma um pé na bunda de Marcelo (Dudu Azevedo). Consternada, a jovem acaba na sala de aula do professor de biologia evolucionista Conrado (Malvino Salvador) cuja tese trata do declínio dos relacionamento conjugais causados pela independência sexual feminina, que por sua vez afastou do sexo masculino a responsabilidade pela conquista. Após uma coincidência cinematográfica monstro, Tati, que fez com que a antiga terapeuta entrasse em depressão, reencontra Conrado e aceita ser o objeto de sua tese (por mais absurdo que a hipótese possa parecer ao olhar científico: um experimento social com um único sujeito). De toda forma, Conrado ensina Tati a se comportar diante das investidas de Marcelo, como atender o telefone apenas após o 9° toque ou se mostrar indiferente a todas suas abordagens. Porém, o que Conrado não sabe é que ele estaria reaproximando o casal, em um claro resumo de que ele jamais assistiu a alguma comédia romântica.

E esta abusa da beleza exótica de Cléo Pires em uma trama absurdamente familiar às comédias românticas norte-americanas, bastando 10 minutos para descobrir com quem a insegura e histérica Tati terminará a narrativa (o cafajeste Marcelo não tem chance contra o gentil Conrado). Também não foge a regra do gênero os personagens engraçadinhos, como Magrão (Álamo Facó), e subtramas descartáveis, como aquela protagonizada pela ex-esposa de Conrado, Ângela (Rita Guedes). Nada novo, mas reciclado em um entalado nacional menos longo que novelas da Globo.

Se a narrativa falha miseravelmente como comédia romântica, eventualmente torna-se um exemplar divertido do embaraço, nas trapalhadas de Tati para reconquistar Marcelo e nas intromissões oportunas de Magrão.

Embora tenha um argumento fraco, a direção da dupla Tomas Portella e Daniela de Carlo não perde a piada, mesmo nos casos em que ela é, bem, sem graça? Tudo com ênfase no exagero de determinadas situações, como o relato do primeiro encontro de Tati e Marcelo na boate para, em seguida, narrar a versão idealizada. A dupla de diretores também é engraçadas embora imatura ao usar a câmera digital como órgão fálico, quando o movimento de expansão da lente simula uma ereção, ou no sarcasmo do contraste de Marcelo no centro do quadro rodeado de livros e enciclopédias. E até o batido recurso de dividir telas durante ligações de telefone acaba surtindo o efeito apropriado, espremendo Marcelo no canto da tela e, ocasionalmente, introduzindo Conrado e Magrão.

Composto de caricaturas, o elenco é encabeçado por Tati, que apesar de interpretada com encanto por Cléo Pires, age quase como uma louca varrida e carente, perseguindo Marcelo a ponto de danificar o seu carro. Conrado, por sua vez, é um inabalável cavalheiro e nem mesmo o discurso inicial consegue afastar a índole dele, que não hesita em pagar a conta do restaurante e abrir a porta do carro para Tati. Ele também é indefeso às visitas abusivas da ex-esposa e sequer consegue justificar o porquê de ter um carro caindo aos pedaços e morar em um apartamento relativamente confortável. Enquanto isso, Marcelo é o típico filhinho de papai, surfista e desrespeitador do sexo feminino, ao passo que Magrão arranca risos pelo nonsense de suas investidas e do seu timing cômico.

Longe de influenciar a credibilidade do cinema brasileira lá fora, mesmo porque é dificílimo que esta produção respire outros ares além dos tupiniquins, Qualquer Gato Vira-Lata é divertido no que se propõe: uma novela enlatada mais engraçada que romântica, mais mediana que desastrosa.

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2 comentários em “Crítica | Qualquer Gato Vira-Lata”

  1. Gostei da sua resenha. Criticou, mas sem atacar, como muitos por aí. Eu ri muito com o filme. É exagerado, é clichê, tem seus erros, mas fui ao cinema para me divertir, e ele cumpriu muito bem esse propósito.

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