Por Alvaro Goulart
“O fogo vai atrair mais atenção do que qualquer grito de socorro”, disse Jean-Michel Basquiat.
Após narrativas bem sucedidas envolvendo a intensidade da força da natureza e a natureza intensa do homem, Taylor Sheridan (roteirista de Terra Selvagem, A Qualquer Custo e Sicário: Terra de Ninguém) traz esse thriller um tanto morno em que o fogo ocupa a maior parte da tela. A propaganda do filme associa no imaginário de qualquer expectador desavisado a frase título à figura de Angelina Jolie. Contudo, a presa em fuga em questão é um menino, alvo de uma queima de arquivo. Quanto ao grito de socorro, honestamente, associo a todos que encabeçam a produção – em especial, ao diretor.
Adaptada do livro de mesmo nome, a história acompanha a perseguição de Connor (Finn Little), um garoto de 12 anos que testemunha a morte de seu pai por dois assassinos profissionais interpretados por Aidan Gillen e Nicholas Hoult.
A essa altura, você já deve estar se questionando onde a Angelina Jolie se encaixa na trama. Que seja atendido seu pedido de socorro: Jolie interpreta Hanna, uma bombeira que cai de paraquedas na trama, ajudando Connor em sua escapada enquanto lida com o trauma de um incêndio anterior. Se o Transtorno de Estresse Pós-Traumático é um distúrbio psicológico grave, aqui ele é retratado como uma centelha episódica esquecível. Bastaria alguns dias em uma guarita isolada e alguns conselhos soltos de um Jon Bernthal mais guru do que policial para renovar nossa heroína.
Por mais que eu me atente a limitar o olhar sobre a obra em questão, não consigo não compará-la aos demais trabalhos de Taylor Sheridan que possuem toda uma aspereza realista. Nesta, no lugar de tiros com impacto “seco” e bombas que arremessam personagens, temos bombardeios de raios que apenas desacordam ou um incêndio florestal que não emana calor suficiente para cozinhar um ser vivo.
Se parte do roteiro parece ter virado cinza no percurso, faltam tons de cinza em algumas figuras. O elenco possui nomes de competência reconhecida, mas isso não foi suficiente para disfarçar o maniqueísmo dos personagens. Não posso dizer o que motivou Angelina Jolie a retornar para atuação justamente nesse longa. Sua carreira por trás das câmeras já contava com bons longas como Invencível e Primeiro Mataram Meu Pai. Quanto ao diretor Taylor Sheridan, parece que abriu mão de traços de autoralidade ou simplesmente não participou do filme. O resultado é um filme que por mais que distraia por seus momentos de ação, soa como um de vários outros de perseguição já produzido – ainda mais quando nos concentramos entre o meado dos anos 80 até o ano 2000.
JORNALISTA E PUBLICITÁRIO. Cresceu no ambiente da videolocadora de bairro, onde teve seu primeiro emprego. Ávido colecionador de mídia física, reune mais de 2 mil títulos na sua coleção. Já participou de produções audiovisuais independentes, na captura de som e na produção de trilha musical. Hoje, escreve críticas de filmes pro site do Cinema com Crítica e é responsável pela editoração das apostilas do Clube do Crítico.