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Operação Fronteira

Operação Fronteira

125 minutos

Determinadas produções tem históricos mais interessantes do que o que exibido na tela possibilita revelar. A deste thriller de ação é um exemplo: idealizado por Kathryn Bigelow e Mark Boal antes de ambos vencerem o Oscar por Guerra ao Terror, o projeto escalou e re-escalou figurões – Will Smith chegou a estar vinculado em certo momento, Mark Wahlberg em outro -, cedeu a vez na fila aos ótimos A Hora Mais Escura e Detroit em Rebelião e chegou a ser engavetado ante as idas e vindas do elenco, quando J. C. Chandor (O Ano Mais Violento e Até o Fim) assumiu o comando e re-escreveu o roteiro original. O resultado – que parece bastante com Três Reis- está diluído em uma trama que rememora as guerras das quais os Estados Unidos participaram e revela o tratamento desidioso conferido por este Governo aos seus veteranos.

A história tem início em uma operação na tríplice fronteira – Brasil, Argentina e Paraguai – quando o ex-militar Santiago (Isaac) auxilia a polícia local a capturar um narcotraficante e repatriar sua fortuna. O sucesso parcial da operação não frustra seus planos de, com auxílio de seus camaradas do exército, realizar uma investida clandestina e enriquecer tudo que lhe foi negado pelo Governo norte-americano. O terço inicial da narrativa é, portanto, a chance de Chandor apresentar seus personagens, enquanto Santiago tenta convencê-los a participar da missão: Tom (Affleck), ex-capitão e agora corretor de imóveis divorciado, que reside na garagem da casa da mulher e em cuja geladeira estão acumulados boletos a pagar, William (Hunnam), aposentado e palestrante de exatos 173 discursos motivacionais – de que adianta sua habilidade numérica a narrativa jamais explica -, seu irmão Ben (Hedlund), lutador de vale-tudo, e Francisco (Pascal), piloto de aeronaves com a licença suspensa depois de movimentar drogas.

É fácil perceber por que esses homens toparam rejeitar o juramento que fizeram debaixo da bandeira de seu país para se aventurar criminosamente na América do Sul: ganância. Não que o quinteto não procure no cânone das guerras americanas a justificativa para dormir a noite – livrar aquela região do regime opressor de um narcotraficante aleatório, que poderia ser um ditador – e tente convencer o espectador de que são os mocinhos da história apenas pela força da camaradagem entre si, realçada da forma mais cafona que há na cena final. A verdade é que os ditos “heróis” não nos enganam, mesmo que procurem ganhar nossa simpatia em razão das dificuldades financeiras que amargaram, e não demora para que aquele que achávamos o mais perdoável revela sua verdadeira face, detrás da simbologia óbvia de uma fogueira ardente.

Entretanto, é possível manter um olhar crítico aos personagens e, ainda assim, reconhecer serem as vítimas das guerras que sobreviveram, o que a narrativa de J. C. Chandor resgata em sequências que mimetizam os conflitos mais polêmicos do passado como vistos pelas lentes cinematográficas: do Vietnã ao Oriente Médio, e como todos tinham em comum o desejo imperialista e capitalista norte-americano mais do que o bem-estar do povo que pretendiam ajudar. As metáforas são inseridas com astúcia e pertinência por J. C. Chandor: a testosterona que alimenta a impulsividade do quinteto é a mesma que já vitimou inocentes mundo afora, e Ben reconhece isto ao se irritar pela atuação desastrada do grupo, ao passo que a recusa do bando de encerrar o plano no momento oportuno equivale às vezes em que os Estados Unidos permaneceram além da conta em países até serem expulsos, de uma vez por todas, pela força da opinião pública.

Com a cabeça no lugar certo, levando a outro patamar o que poderia ser apenas ação, J. C. Chandor falha, porém, com seus personagens. Apesar de não serem unidimensionais, estão próximos disto. E, com exceção de Santiago, parecem reféns dos atores que os interpretam, com os quais simpatizamos mais do que com os personagens – ao menos, o elenco está bem na medida do que os arquétipos que interpretam permitem. A consequência é mortal: não nos preocupamos com o sucesso da missão ou o destino dos personagens, que podem falhar ou morrer se assim a trama desejar, e sem este vínculo humano, a narrativa resume-se à fria análise da eficiência da direção das cenas de ação.

Por falar nelas, as sequências acertam mais quando expõem as fragilidades da quadrilha (já podemos chamá-los assim, certo?), no lugar da excelência esperada do exército americano, aqui prejudicada por sua dificuldade em avaliar ameaças em potencial. A execução das cenas é também eficiente, um misto do bom planejamento de J. C. Chandon e da montagem de Ron Patane, que cria dissoluções simbólicas, como por exemplo aquela em que o rosto de um personagem desaparece no meio da floresta.

É o ponto que sucede a subdivisão da narrativa em duas metades bem definidas: a primeira, o típico filme de assalto; a segunda, um misto de perseguição e sobrevivência. Ou ao menos é isto o que parece ter pretendido a direção, criando um trabalho desequilibrado – a primeira metade é bastante superior à segunda -, mas que funciona dentro da proposta do gênero na mesma proporção que decepcionará quem esperava mais, dado o pedigree do elenco e do diretor e roteirista e da ambição irrealizada da história contada.

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