Denis Côté venceu o prêmio de Melhor Direção na Mostra Encontros, do Festival de Berlim 2020.
Higiene Social trata de encontros e distanciamento. Em um campo aberto, calmo o bastante para escutarmos os sons do vento ou dos animais perdidos no interior da mata mais adensada, irmãos, amantes, ladrão e vítima se encontram para declamar diálogos como se estivessem no teatro grego. A estes diálogos, pode faltar a substância de Aristóteles ou Sócrates, mas lhes sobra estilo.
A pandemia do SARS/COVID-19 enfatizou a indispensabilidade em manter o distanciamento social, e talvez aqui se experimente o distanciamento cinematográfico em sua potência. Os personagens permanecem distantes entre si, ao menos de forma literal, pois se recordam de instantes de intimidade que requerem proximidade: Antonin, que precisa se aproximar para furtar turistas e desavisados; a irmã, que deseja contato embora diante do risco de uma combustão espontânea (!).
A distância existe também entre personagens e espectador, pois a forma dos diálogos não convida, ao menos não me convidou, além de um relacionamento intelectual com as palavras. Não enxergamos personagens, mas atores interpretando personagens ao ar livre; diante está o dispositivo cinematográfico, que permanece atrativo o bastante para não desviarmos o olhar. Talvez porque ansiamos por momentos como o de liberdade de Aurore na floresta, ao som de um rock que existe só em sua cabeça, fora da diegese do filme, ou de closes que superem a austeridade da proposta.
Desse modo, a busca está pela proximidade que a narrativa sonega ao espectador. Pelo sentido humano atribuído que faltam às palavras enunciadas de forma fria e desolada. Pelas respostas às provocações do texto, algumas das quais parecem soar pedantes – como interpretar o que pensam bezerros quando enxergam fogos de artifícios, senão como o que pensam espectadores quando assistem a este filme? -, embora conservem o desejo de desvendá-las ou ao menos o desejo de ter mais tempo para refletir a respeito.
Incomum em estilo, Higiene Social é uma obra ressignificada pela pandemia que proporciona um bucolismo formal em resposta ao período de distanciamento que ainda vivemos.
Má Sorte no Sexo ou Pornô Amador está disponível na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.