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Quo Vadis, Aida?

Quo Vadis, Aida?

101 min.

Por Alvaro Goulart

“A tragédia final não é a opressão e crueldade das pessoas más, mas o silêncio sobre isso pelas pessoas boas”, afirmou Martin Luther King.

Eu era muito pequeno quando a guerra da Bósnia acontecia, nasci em 1990. O conhecimento sobre o evento se deu na época do ensino médio. Mas confesso que acho esse e outros conflitos tão dolorosos quanto preteridos ao currículo acadêmico, que se concentrava mais nas duas grandes guerras mundiais. Boa parte do meu entendimento dos acontecimentos nos balcãs se devem aos filmes que assisti. Lembro de Terra de Ninguém, Bem Vindo à Sarajevo e Prova de Redenção. Mas nenhum deles conseguiu ser tão significativo – ao menos para mim – como foi “Quo Vadis, Aida?”. Não se trata de um filme de guerra apenas. É um filme sobre uma ferida aberta.

Em “Quo Vadis, Aida?”, Aida (Jasna Đuričić) é uma tradutora da ONU que tenta salvar sua família em meio a milhares de cidadãos que buscam abrigo em uma base militar da ONU na cidade de Srebrenica, ameaçados pela chegada do Exército da Republika Srpska (Exército Sérvio-Bósnio) sob o comando do monstruoso Ratko Mladić. A tensão cresce conforme os algozes se aproximam. Fazendo uso de sua influência, vemos nossa protagonista tentar garantir a segurança de seu marido e filhos. Mas se dentro daqueles muros vemos o desespero de uma mãe e esposa, se escancara a inércia burocrática da alta cúpula da ONU fora de campo. Enquanto isso, responsável por aquele ambiente, o Coronel Thom Karremans (Johan Heldenbergh) administra constantes negativas de seus superiores – confortáveis fora da zona de conflito. O que fazer então para salvar aqueles que estão sob seu comando e tutela? É sensato confiar em um trato com o Diabo? A impotência faz de todos prisioneiro.

A bomba relógio não se desarmaria. Afinal, esse momento hoje é chamado de “O Massacre de Srebrenica”.  As tropas da ONU se retirariam, assim como já se retiraram em outros momentos e lugares – Ruanda, por exemplo. A pergunta que nomeia o filme não diz respeito ao destino de Aida ou outros sobreviventes do massacre. É sobre como caminhar após essa experiência, e mais ainda sobre como caminhar em meio aqueles que foram responsáveis pelo seu sofrimento. Não consigo não comparar Aida aqueles que permanecem no Afeganistão e hoje convivem com a presença do Talibã e o pavor que ele impõe. A sensação é de ver a história sempre se repetindo, em que os grandes cobrem os olhos para a mazela do pequeno. Quantas Aidas esse ciclo ainda vai parir?

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