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One Year, One Night

Un año, una noche

130 minutos

Drama recria o atentado terrorista no Bataclan e as consequências emocionais dele em um casal

Com base em relatos dos sobreviventes do atentado terrorista à casa de shows parisiense Bataclan, One Year, One Night discute como os efeitos do trauma não se exaurem apenas naqueles minutos ou horas que parecem uma eternidade. Pelo contrário, marcam a vida de cada uma das vítimas, de formas diferentes, como uma tatuagem emocional indelével com que se aprende a conviver. O diretor Isaki Lacuesta, portanto, dá mais ênfase às consequências do ato terrorista na vida do casal protagonista, Ramón e Céline, de um modo diferente da ação imediatista de Paul Greengrass quando dirigiu Voo United 93, para fins de comparação.

Céline (Merlant, de Retrato de uma Jovem em Chamas) e Ramón (Biscayart, de 120 Batimentos por Minutos) estão tentando recuperar o senso de normalidade. Enquanto Ramón enfrenta ataques de pânico, Céline sufocou a experiência o que lhe permite um falso retorno à rotina. O estresse pós-traumático ameaça a sobrevivência do casal, incapaz de reconciliar uma visão de futuro que não tenha o atentado no centro da discussão. O roteiro toca em temas conturbados e complexos, mas falha em não os explorar melhor. Em certo momento, um personagem tece uma autocensura por ser racista (ou islamofóbico). O comentário permanece assim, isolado, como um tiro dado no escuro, ainda que certeiro e sujeito à reflexão.

Céline e Ramón na fatídica noite de novembro de 2015

De forma semelhante, o roteiro falha em construir a relação conflituosa entre Céline com um jovem árabe e rebelde, alimentando a tensão e atingindo o clímax dramático, porém sem delinear como isto se relaciona à repressão dela. Já a direção é exitosa em tornar o ato terrorista propriamente dito em um pesadelo com ênfase no caos, na desordem e incapacidade de enxergar onde estão ou quem são os atiradores a partir do recurso de uma montagem eletrizante. Além do mais, Isaki reforça, visualmente, a ansiedade e depressão debilitante de Ramón em contrapartida com a ilusão de normalidade de Céline, na vã tentativa de ser quem fora um dia.

Como é Céline a protagonista, no fim das contas, a direção namora um desfecho adequado, o da realização do quanto reprimiu para sobreviver, mas continua por mais minutos de forma prolixa quando a narrativa parecia já exaurida. Ao propor estender a narrativa além do primeiro final , Isaki até oferece momentos poéticos de desorientação após o resgate ou de retorno ao Bataclan, como um sinônimo de reconciliação com a própria história. Apesar da boa intenção, a sensação é do epílogo inchado e de uma narrativa que não soube encerrar.

The Terror Experienced In The Bataclan Theater Shocks The Berlinale With 'One  Year, One Night', By Isaki Lacuesta - Mind Life TV
Momentos após o resgate

É um problema recorrente de filmes baseados em histórias reais que, inspirados em depoimentos dos sobreviventes, acreditam honrá-los quando reproduzem, pontualmente, os eventos relatados. A melhor forma de homenagem, porém, é deixar a cargo da linguagem cinematográfica o poder da expressão através da síntese da imagem com objetividade.

Crítica publicada durante a cobertura do 72º Festival de Berlim/2022

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