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That Kind of Summer

Un été comme ça

137 minutos

Dênis Cótê é a pessoa errada para explorar a sexualidade de três personagens em um retiro

Três mulheres compulsivas por sexo se voluntariam para um tratamento que não pretende curá-las, mas ajudá-las a encarar a raiz deste desejo insaciável. Assistidas por uma terapeuta substituta alemã, com problemas pessoais decorrentes de sua viagem ao Canadá, as mulheres passam 26 dias encenando, física ou verbalmente, os seus fetiches sexuais como uma forma de encará-los por tempo o bastante para perceberem que hipersexualidade não é uma doença, o bordão da clínica.

O diretor canadense Denis Côté deve ter tido boas intenções em empoderar as mulheres a enxergar que seu comportamento sexual não é doentio, mas um aspecto de suas vidas que é merecedor de investigação, da análise. O sexo é uma bandeira erguida para combater e enfraquecer a expressão do feminino, de maneira que a narrativa explorar parece uma boa ideia. No entanto, não deixa de ser preocupante como o olhar masculino de Côté reduz aquelas mulheres – inclusive a terapeuta – a justo o que a narrativa tenta combater.

Léonie é uma das pacientes da instituição.

É que Denis evidencia não apenas as experiências sexuais daquelas mulheres de forma explícita (a transa com um time de futebol na floresta detrás do campo, ou a amarração com cordas como meio de dor e prazer) e através de relatos desimpedidos e sem juízos morais (o relato do sexo grupal com 15 homens ou a memória do abuso paterno são alguns destes momentos). Ao trazer este conteúdo da forma como é feita, Denis transforma as mulheres em atrações de um circo. Ele não as dignifica, mas somente transforma estas experiências, memórias e estes fetiches em um outro fetiche, mas criativo, ao tentar soar desinibido e provocador quando, na verdade, Denis apenas explora suas histórias para seu ganho próprio (como faria um exploitation).

É inevitável pensar como uma diretora mulher trabalharia este roteiro, que Denis também assina. E a narrativa já carrega consigo a marca de um filme imaturo a ponto de transformar as barras de uma escadaria na representação visual dos pênis de 15 homens. Isto só não é mais infantil do que associar a seiva gelatinosa que escorre da árvore com o sêmen. E nem mesmo os atributos formais da narrativa parecem socorrer a direção como poderia parecer: os closes perduram por longos minutos, sem cortes, com movimentos de câmera fluidos e uma encenação dramática não confrontativa que sugerem o desejo do diretor de deixar os personagens conversarem com o espectador sem julgamento.

Laurie e Geisha

Mentira!

Se fosse isto que desejava, por que Denis não explorou também a sexualidade de Sami, o único personagem masculino da narrativa, se o faz também com a terapeuta? Ao invés disto, tornou Sami em um monumento de bom senso e que tem o desejo de ajudar. Mas como ajudaria se a narrativa não investiga a metodologia terapêutica, os resultados esperados e obtidos? O resultado é um filme de mau gosto, com um olhar masculino para as verdades que as mulheres retiram do peito com alguma dose de dor e prazer. É um filme errado do início ao fim.

Crítica publicada durante a cobertura do 72º Festival de Berlim/2022.

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