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Baile Soul

2.5/5

Baile Soul

2023

80 minutos

2.5/5

Diretor: Cavi Borges

Cavi Borges documenta o importante movimento Black Rio em um filme cheio de suingue.

É curioso que uma mostra de cinema como a de Ouro Preto, decida exibir em sua sessão de abertura de uma edição com a temática Música Preta do Brasil, um documentário que se debruça sobre um movimento que nasce da importação da cultura norte-americana. Ao longo de quase uma hora e meia de projeção conhecemos as raízes do que ficou conhecido como Movimento Black Rio, um processo espontâneo de assimilação no Brasil de um fenômeno cultural que nasceu nos Estados Unidos. Na década de 60 a consolidação de uma série de fatores intelectuais, religiosos, estéticos e políticos culminou em uma efervescência cultural preta, que deu origem ao movimento Black Power. A música foi o principal meio de expressão e difusão de ideias que pregavam o orgulho de ser preto e uma postura combativa em relação ao racismo praticado pela sociedade estadunidense.

Demorou algum tempo para que essas ideias desembarcassem em terras tupiniquins, por aqui a música preta que se desenvolvia era principalmente o samba, expressão tipicamente nossa, de muita importância, mas que naquele momento não possuía um viés político forte. Daí se compreende a escolha dos programadores da CineOP em tornarem “Baile Soul” do diretor carioca Cavi Borges o seu filme de abertura da 18ª edição. As ideias americanas foram fundamentais para despertar no Brasil uma consciência estética, política e cultural acerca do racismo que aqui também se praticava, ainda que de maneira bem distinta. Essas ideias foram absorvidas e deram origem a um pensamento nosso acerca desses temas.

O diretor Cavi Borges constrói em seu “Baile Soul” um documento acerca desse movimento que tem a importância subestimada. Se hoje o funk carioca é um gênero conhecido no mundo inteiro, isso se deve aos bailes que começaram a acontecer no subúrbio da Cidade Maravilhosa lá na década de 70. Por conta desse viés mais de registro, Cavi adota uma narrativa bastante convencional. O filme consiste em depoimentos de personagens importantes intercalados por imagens de arquivo dos bailes, que ilustram bem a dança, as roupas e o comportamento daqueles jovens que faziam história sem saber.

O grande diferencial de “Baile Soul” está em como o diretor conduz a montagem. Mesmo que a abordagem narrativa seja bastante convencional, Cavi procura incorporar ao seu filme o ritmo do soul. Usando e abusando da musicalidade que a temática da obra oferece, o diretor brinca sincopando as imagens, deixando seus entrevistados livres para momentos de dança e discotecagem que quebram mesmo que timidamente a linearidade narrativa, e ainda se aproveitando de imagens que são referências estéticas para todo esse movimento, como as do cinema “Blaxploitation” também assimilado pelos brasileiros.

Porém, em determinado momento falta objetividade ao filme. Ao optar por um caminho mais convencional, de traçar um retrato linear daquele momento histórico, o diretor também traz para si a obrigação da didática. Se o filme se propõe a “ensinar” o que foi o movimento Black Rio, ele precisa se comprometer com as contextualizações que permitam o entendimento do espectador. Mas o longa tem dificuldade de organizar tantas informações, nomes de bairros, bailes, equipes de som, personagens… Enfim, o segundo ato perde o foco e enfraquece bastante a potência que a temática carrega justamente por não saber lidar com esses excessos.

De qualquer forma não deixa de ser uma experiência legal, principalmente pra quem gosta de música e já está familiarizado com a importância de nomes como o histórico DJ Big Boy, de figuras como Tony Tornado, Gerson King-Combo, Tim Maia, pra quem já foi seduzido pelo magnetismo de James Brown e consegue entender o tamanho da influência que esse astro da música americana teve em pretos e pretas do mundo todo. É importante que o registro seja feito. Em uma mostra que preza tanto pela preservação do nosso patrimônio audiovisual, é bonito que se comece contemplando um momento histórico tão subvalorizado pela cultura hegemônica, mas que gera até hoje repercussões importantíssimas para a arte, a política e a estética brasileiras.

Assistido na 18ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto.

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