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O Armário Mágico

2.5/5

O Armário Mágico

2022

106 minutos

2.5/5

Diretor: Erico Alessandro

Alguns momentos da história pode deixam um sabor amargo. Experimentá-lo outra vez pode apenas ser possível acrescentando a doçura e magia à essa receita. Diluir a maldade dos homens com o contar histórias fantásticas para que não seja maculada a inocência de uma criança é um truque de mestre.

Ficar de guarda de um menino judeu enquanto os pais buscam uma rota de fuga segura de uma célula nazista foi uma missão que Zygmund (Renato Novaes), um sisudo imigrante polonês radicado aqui no Brasil, aceitou com relutância. Sua rabugice é aos poucos amenizada pela candura do infante Milo (Rafael Pereira). E, conforme o solitário idoso se apega ao menino, se desenvolve uma necessidade de preservar o brilho de seus olhos. Contar a história de um mágico e sua família, e do armário mágico que utilizava em seus truques foi o recurso encontrado para distraí-lo da ausência de seus pais e do medo que tomava conta da região.

A trama nos faz lembrar de A Vida é Bela, de Roberto Benigni, por também querer suavizar a passagem através desse momento obscuro. Contudo, O Armário Mágico abre mão de uma estética áspera por uma semelhante à de um conto de natal. As primeiras cenas do filme definem o tom melodramático em que o filme se pautará. Para que a magia tome conta da narrativa, o realizador fez questão de sublinhar elementos formais como as cores expressivas iluminam os ambientes, a trilha sonora que a preenche e a interpretação mais intensa.

 Na casa de Zygmund, o amarelo da iluminação das velas é aconchegante, ainda mais no momento de reunião da família de judeus (Vale ressaltar que também era amarela a Estrela de Davi presente nas braçadeiras que identificavam os judeus nos guetos da Europa). Ainda assim, a luz externa na janela da casa é verde, como se a morte sempre estivesse à espreita do lado de fora. Já na base dos nazistas, a cor dominante é o enérgico e hostil vermelho presente. O azul também se apresenta em cenas onde a tristeza e o medo estão presentes no ambiente. Outro elemento que reforça esse contraste é a trilha musical extradiegética. Enquanto somos embalados pelo suave acorde de violinos nas cenas dos nossos protagonistas, os tambores que anunciam os vilões invadem nossos ouvidos como tiros de canhão.  

As interações entre Heinrich (André Hendges) e o Padre Schubert (Charles Paraventi) sugerem uma dinâmica semelhante à de Joaquin Phoenix e Phillip Seymour Hoffman em O Mestre. O personagem de Paraventi é controlador enquanto seu capanga se mostra sempre diminuído e com a postura corporal encurvada diante de seu ídolo. A ferocidade e descontrole de Heinrich se revela apenas diante de presas mais vulneráveis. Infelizmente o desenvolvimento desse relacionamento não acontece pois o mesmo é abreviado pela obliteração da figura do padre – e com uma justificativa expositiva.

O desenvolvimento do terceiro e último ato do filme acaba sendo comprometido pela ausência do personagem que prometia ser o grande vilão, o orquestrador de toda aquela perseguição. Existe uma precipitação na conclusão dos conflitos, de forma que não se permite sentir uma redenção genuína dos personagens. E, numa narrativa que procura se alicercear na magia do extraordinário, o discurso conclusivo se enveredou pela lógica. O clímax acabou sendo reduzido pela narrativa que optou por se enveredar pelo racional em detrimento ao emocional. Nos reservando como prêmio de consolação, um reencontro deslocado.

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