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Vermelho Monet

3.5/5

Vermelho Monet

2022

135 minutos

3.5/5

Diretor: Halder Gomes

Cor é um conceito que não existe materialmente. É apenas uma ilusão. Uma sensação gerada por um feixe de luz que se inicia nos olhos e se conclui no córtex occipital. Dito isso, nada é o que aparenta ser. Em uma trama envolvendo o mundo da elite das artes, Vermelho Monet nos convida ao deslumbre. Seus enquadramentos parecem ter sido produzidos por suaves pinceladas, e o contraste de cores, sentimentos, luzes e sombras hipnotizam o nosso olhar.

A frequência do vermelho de Monet é a primeira a ser percebida. Intenso, vivo, sensual. A cor de todas as paixões, do amor ao ódio. A que remete ao prazer, ao sangue e também ao perigo. Do outro lado do espectro cromático está o azul – de Picasso. A última a ser experimentada. Distante, triste, fria. A cor do céu, do divino, das Madonas. Não me espanta as duas serem usadas como duas faces da mesma moeda durante o filme. Claro, o branco e o preto continuam presentes nessa dicotomia. Mas é possível identificar a presença tanto do vermelho quanto do azul refletidos nas superfícies alvas e negras – Um brilhante trabalho de fotografia em conjunto com o design de produção e figurinos.

Em Vermelho Monet, Johannes Van Almeida (Chico Díaz) é um exímio pintor de figuras femininas recém-saído da prisão, que sofre de uma deterioração de sua visão que faz com que seu mundo seja ausente de cores. Sua vida é igualmente em tons de preto e branco: sua esposa, uma talentosa pintora, está aprisionada no próprio corpo e seu nome esquecido do mundo das artes por seu passado escuso. Sua paixão pela arte ressuscita conforme os tons rubros começam a se tornar presentes em sua visão – a primeira frequência a ser percebida – após se deparar com Florence Lizz (Samantha Heck Müller), uma atriz em crise. O mundo das artes é chacoalhado quando esses dois personagens cruzam o caminho com Antoinette Léfèvre (Maria Fernanda Cândido), marchand e connoisseur de arte.

A narrativa é quase erótica. Em ambientes repletos de obras, riqueza e elegância, a sensualidade toma conta do quadro. A atmosfera é simultaneamente olimpiana e mundana. Ao mesmo tempo que possui um caráter exclusivo, elitista e, por muitos, inalcançável, é comandada por impulsos ordinários como desejo, inveja, orgulho e ganância. O mundo da “arte oficial”, como define a personagem de Maria Fernanda, é envolvente por ser proibido. Com negociações obscenas que movimentam fortunas entre aqueles cujo status quo permite passarem despercebidos entre meros mortais. Além do poder, arte e do sexo pairando na narrativa que convidam o expectador a ser um voyeur da trama.

Enquanto no primeiro plano se desenvolve um jogo de sedução centrada na figura de Florence, um ardil envolvendo falsificação de arte vai ganhando foco. Cão e raposa disputam sua presa enquanto o artista produz sua magnum opus. Confesso que, para mim, o desenrolar do enredo acabou se tornando menos hipnotizante que a forma que o ilustra. A imagem é o verdadeiro protagonista do filme enquanto a trama é um mero coadjuvante.

Não me incomoda o elitismo na qual o filme se sustenta. Quando traz referências à Frida Kahlo, Johannes Vermeer e René Magritte é apenas para distanciar o homem médio daquele universo. É para ser elitista por que assim é o microcosmo da arte. O pedantismo de Vermelho Monet se encontra não na ambientação, mas em cenas em que o roteiro subestima a sensibilidade e a imaginação do espectador. Por exemplo, quando recorre a diálogos expositivos e, mais ainda, quando mostra a realização do artista. Era necessário idealizarmos a mais bela das pinturas. Que projetássemos em nosso cérebro a beleza absoluta retratada em uma tela. É quando nos censura dos devaneios do sentir e do sonhar que o enredo desbota nossa experiência, nos deixando com o sabor de um vinho que avinagrou no último gole.

Vermelho Monet foi exibido na 2ª Edição do Festival de Cinema de Vassouras, sendo premiado com os troféus Grão de Ouro de Melhor Som em Longa-Metragem de Ficção, Melhor Fotografia em Longa-Metragem, Melhor Direção de Arte em Longa-Metragem de Ficção, Melhor Figurino em Longa-Metragem de Ficção.

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