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Valentina

4/5

Valentina

2021

95 minutos

4/5

Diretor: Cássio Pereira dos Santos

Valentina, uma menina trans de 17 anos de idade, muda-se para uma pequena cidade mineira com sua mãe Márcia para um recomeço. Com receio de ser intimidada na nova escola, a garota busca mais privacidade e tenta se matricular com seu novo nome. No entanto, a menina e a mãe começam a enfrentar dilemas quando a escola pública local começa a exigir, de forma injusta, a assinatura do pai ausente para realizar a matrícula.

O longa foi exibido na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, do qual saiu vencedor do Prêmio do Público, de Melhor Filme de Ficção Brasileiro e a atriz Thiessa Woinbackk recebeu a Menção Honrosa, do Prêmio do Júri. A atriz já havia recebido o prêmio de Melhor Interpretação, no OutFest Los Angeles.

O filme já se destaca por trazer ainda mais verossimilhança à história escalando a atriz e youtuber trans Thiessa Woinbackk. Ele expõe as várias barreiras e constrangimentos que as pessoas trans enfrentam no seu dia-a-dia (não apenas a transfobia direta, como também a hostilidade nas suas silhuetas mais sutis). Sentimos o quão distantes são as instituições dessas pessoas, desde a ignorância sobre seus direitos à falta de empatia no tratamento. Esse distanciamento entre instituição e cidadão é ilustrado pela posição de ambos em lados opostos do quadro, tanto na cena do colégio, como na da delegacia.

Além da protagonista, o filme também traz outros personagens que refletem figuras comuns na sociedade: o jovem homossexual, a mãe solteira adolescente e a mãe que carrega as responsabilidades da casa sozinha – vivida pela atriz Guta Stresser, a Bebel de “A Grande Família”. Alguns personagens são melhor explorados que outros. Além da luta de Márcia em zelar por sua filha, a subtrama de Júlio possui uma atenção especial. Sua procura por uma conexão afetiva, além da sexual, se manifesta em um beijo que sempre lhe foi negado pelas figuras masculinas que acessam seu corpo.

A figura do pai está presente ainda em sua ausência; seja na burocracia escolar ou no medo primário de Valentina de nunca mais vê-lo. Sua trajetória apresenta um homem vacilante em suas ações e falas. Seu desconforto é visto desde seus gestos, tons de fala até seu posicionamento no quadro. E seu legado começa e termina da mesma forma: necessidade burocrática. Como muitos pais, ele é apenas um nome no documento – quando isso.

A conquista do RG com nome social pontua o fim de uma metamorfose para Valentina. A saída dos personagens da escuridão do cartório para a rua ensolarada conclui uma trajetória penosa por um vale de sombras, cujo pai permanece e sem pertencer ao abraço de celebração familiar. Aquele que um dia foi objeto de sua procura, inclusive afetiva, não mais corresponde às necessidades do “novo eu” da protagonista.

Apesar de a história se passar numa cidade do interior mineiro, o filme não se permite explorar tanto a dinâmica entre as pessoas, visto que essa em uma cidade pequena se difere em uma metrópole. Não existem tantos episódios em que se evidência o descontentamento da comunidade para com a presença de Valentina. Tão pouco a sugestão de que que o segredo passou a ser de conhecimento público. A impressão que deixa é que, diante de mais possibilidades, a escolha dos idealizadores foi de se limitar ao microcosmo da escola.

Valentina é um grito necessário e de sensibilidade afinada que evidencia o preconceito da sociedade e o despreparo das instituições. Também desmascara a inconsistência da “masculinidade ideal”, sobretudo quando questiona as razões ocultas da sua intolerância. O uso do diálogo expositivo no fechamento do último ato evoca o clímax do filme. Apesar de normalmente ser um recurso questionável dentro da construção cinematográfica, podemos observar, perante a narrativa, como uma escolha positiva. Inquerir de forma exclamativa e explícita o real motivo do preconceito pode ser algo necessário em tempos onde a intolerância grita mais alto. O filme também possui o mérito de não carregar em sua totalidade um tom maniqueísta, ousando até mesmo em um trecho apontar discriminações existentes dentro da comunidade LGBTQ+.

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1 comentário em “Valentina”

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