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En El Pozo

En El Pozo

82 minutos

Este suspense uruguaio é objetivo em como permite ser o cenário minimalista idealizado pelo irmãos diretores e roteiristas Bernardo e Rafael Antonaccio: o casal Alicia (Silva) e Bruno (Gordillo) viajou de Montevidéu para relaxar o estresse da capital à beira do lago na companhia dos irmãos Tincho (Beltrán) e Tola (Pazos). Qual o complicador? Tincho, o ex-namorado de Alicia, reacendeu a paixão logo nos tórridos minutos introdutórios.

Com o tempo enxuto – uma tarde -, espaço limitado – um lago – e somente quatro personagens – um deles, alívio cômico -, cabe ao roteiro tornar a situação tão tensa o quanto pode. Não consegue, na maioria das vezes, porque a escalada dos eventos está presa ou a provocação progressiva entre Bruno e Tincho – iniciada quando ‘jogam’ futebol e aquele chuta a bola para longe como o homem mimado que é – ou as tentativas malsucedidas de Alicia em disfarçar a traição – o celular é concebido como objeto não apenas privado, mas terminantemente inacessível até para ligações emergenciais, o que me obriga questionar, retoricamente, a razão de ela não haver apagado as mensagens proibidas ao recebê-las.

É um problema recorrente de ‘filmes de gênero’ iguais a este: a ingenuidade em recorrer aos elementos característicos que o espectador aguarda, ao invés de tentar surpreendê-los ou proporcionar uma construção inteligente e melhor amarrada até chegar ao momento de catarse. A trama até tenta, às vezes, em particular na forma como espalha pistas ao largo da narrativa para colhê-las no terceiro ato: é o caso da pedra em que Tincho tropeça e que terá utilidade adiante ou a discussão a respeito da pesca com anzol e sobre determinado réptil aquático. Estas incursões funcionam porque retribuem o investimento que fizemos naqueles instantes que pareciam triviais à primeira vista… mas não eram.

Desta forma, existe apelo em assistir ao (esperado) descarrilamento rumo à violência de gênero pelo excesso de testosterona e insegurança no ambiente e pela masculinidade tóxica de Bruno, e como isto ajuda a estabelecer uma discussão não inédita, mas tomada de ponto de vista diferenciado. Isso porque, ao revelar a traição de Alicia na cena inicial, a narrativa permite a existência de duas abordagens: a daqueles que (erroneamente) acham justas ofensas, humilhações e agressões cometidas por Bruno somente por este ser um homem traído e a dos demais que (corretamente) entendem que nada que ocorreu exime ou atenua seus atos.

Até porque, se não estivesse feliz ou confortável no relacionamento, que o encerrasse com dignidade. Não que arrastasse aquele grupo ao fundo do poço.

Crítica publicada durante a cobertura da 47ª Festival de Cinema de Gramada

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