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Red: Crescer é uma Fera

Red: Crescer é uma Fera

100 min.

Por Alvaro Goulart

“Talvez esse seja o maior risco que podemos correr, sermos vistos como somos de verdade”, disse Cinderela.

Em Red: Crescer é uma Fera, acompanhamos as desventuras de Meilin “Mei” Lee, uma menina sino-canadense de treze anos que herda o poder de se transformar em um panda vermelho. Só que esse não tão pequeno detalhe acaba se tornando um problema para quem já está tendo que lidar com todas as questões da pré-adolescência. Esse momento da juventude é marcado por mudanças. Apesar de Red poder ser também uma metáfora sobre as mudanças no corpo de uma menina, sua primeira menstruação e os hormônios em fúria, ele não para por aí. A construção da identidade, definições de gostos, objetivos e grupos aos quais pretende pertencer é uma das principais inquietações que essa narrativa comming of age se escora.

Meilin Lee, ou apenas Mei

No começo da animação, Mei – como gosta de ser chamada – se apresenta para nós bem segura de si, tratando logo de quebrar a quarta parede e nos dimensionando cada centímetro e minuto de sua rotina diária. Conhecemos sua escola, o templo de sua família e seus amigos. Aparentemente, uma vida perfeita. Regrada, porém perfeita. Ao acordar na forma de um grande e felpudo animal, toda sua segurança cai por terra e sua nova realidade coloca em cheque o cristal encantado que era sua existência. O despertar da fera também despertou outras emoções e interesses que já não cabiam mais na sua rígida rotina. A menina entrando na adolescência começou a ver os meninos com outros olhos e a desenha-los nos cadernos…mas esse não era o quadro que sua mãe, Ming Li, havia pintado para ela.

A maternidade super protetora de Ming Li é um elemento importante para o desenvolvimento da história. A diretora Domee Shi já havia trabalhado a temática em seu curta Bao. A incomunicabilidade na relação entre pais e filhos já dá seus sinais logo no início do filme quando Mei narra que, por gratidão ao lhes ter concedido a vida, os filhos devem fazer absolutamente tudo o que os pais falam. Essa relação só mantém sua afinação enquanto uma parte se permite silenciar. Ming diversas vezes atravessa os sentimentos da filha na tentativa de protegê-la de qualquer perigo, e em suas tentativas acaba colocando a filha nas situações mais constrangedoras pra uma pré-adolescente. Até mesmo questiona as amizades de Mei, mesmo que ainda não as tenha conhecido. Mas nem por isso precisa ser vista com maus olhos. Afinal é apenas uma mãe fazendo o seu melhor.

A constante vigilância da mãe de Mei

Apesar de se passar em Toronto, a cultura chinesa costura a trama e a cidade serve apenas de pano de fundo como a metrópole cosmopolita que é. O tipo de criação em uma família que traz os costumes tradicionais do leste asiático não são as únicas inspirações nessa história. Alguns elementos dos animes foram incorporados nessa animação da Disney. O próprio panda vermelho parece ter saído de Pokemon. Até os olhos grandes e expressivos característicos foram incorporados. O uso de nuvens de fumaça e neblina durante as transformações também são velhos conhecidos do público otaku. Naruto ficava rodeado de nuvens de fumaça quando executava seu Jutsu de Clone das Sombras…ou o Jutsu Sexy. A neblina também tomou conta do cenário quando Kurama revelou sua forma de Kurama Youko, durante o Torneio das Trevas, em Yu Yu Hakusho. A própria diretora assumiu em entrevista que Sailor Moon foi uma de suas inspirações. As novas animações tendem a trazer aspectos do tempo atual para poder criar conexão com as crianças.

A fumaça rosa que toma conta do ambiente durante a transformação

A tecnologia é um dos principais fatores que contemporanizam os filmes. Com as crianças fazendo uso de celulares de última geração e presentes nos ambientes virtuais, é de se esperar que esses elementos sejam incorporados às novas histórias. Red, por outro lado, se passa no início dos anos 2000 e a tecnologia que Mei carregava não era um smartphone, nem mesmo um aparelho celular. Na alça de sua mochila, estava presente uma febre daquela época: um tamagotshi. Outra febre de grande importância à essa narrativa são as Boybands. De BTS à New Kids On The Block, esses conjuntos com arquétipos pré-determinados conquistaram jovens de diferentes gerações. Esse que vos escreve na mesma hora se lembrou de quando fazia coro pela casa durante o “Tell me why“, de “I Wanna That Way“. Quem também cresceu no início dos anos 2000 se sentiu nostálgico quando o 4Town fez sua participação. Mais que objeto de suspiros, a boyband ficcional rendeu uma boa trilha pro filme.

4Town

Juntando todos esses fatores, Red – Crescer é uma Fera e uma animação de comming of age bem gostosa de assistir e que não precisa de um vilão – tão pouco vilanizar uma figura materna – para que sua protagonista tenha seus conflitos e os supere para poder encontrar sua própria voz. Ainda mais com as amigas de Mei dando uma aula sobre sororidade mesmo sendo tão novinhas. Com Encanto, essa já é a segunda narrativa pela qual a Disney têm escolhido esse caminho. E têm oferecido experiências bem agradáveis!

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