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Até a Morte – Sobreviver é a Melhor Vingança

Até a Morte - Sobreviver é a Melhor Vingança

89 minutos

A sobrevivência de uma mulher acorrente ao cadáver do marido

O pior de Até a Morte é o subtítulo nacional Sobreviver é a Melhor Vingança, já que o thriller estrelado por Megan Fox é revigorante. Escrito por Jason Carvey, cujo crédito mais recente é de 2006 (!), o roteiro apresenta Emma no fim do relacionamento extraconjugal com Tom (Aml Ameen), que descobriremos à frente trabalhar com o marido dela, o possessivo Mark (Eoin Macken). Um sujeito doente para, após um jantar romântico e uma noite de sexo em uma cabana no meio do nada coberto de neve, puxar a arma e se suicidar na frente de Emma. Atordoada, a recém viúva descobre que está algemada ao cadáver do marido, que tomou o cuidado de descartar tudo aquilo que Emma poderia utilizar para escapar. Celular? Jogado dentro do jarro de água. A arma? Só tem um projétil. Facas? Não. Carro? Sem gasolina. 

Acorrentada ao corpo do marido, Emma deve encontrar uma forma de sobreviver a qualquer custo. Este desafio remete o espectador de imediato a Jogo Perigoso (2017), a adaptação de Stephen King em que a personagem de Carla Gugino ficava acorrentada à cama após o enfarte do marido, embora Emma tenha maior capacidade de se movimentar pelos cômodos da casa, explorá-la e descobrir de qual forma irá se safar. O comentário sobre a abusividade doméstica é reforçado, sobretudo diante da introdução de Bobby (Callan Mulvey), preso por ter tentado assassinar a protagonista e recém solto em liberdade condicional. Como nenhum espectador nasceu ontem, é claro que a menção dele no início do filme encontrará eco no desenvolvimento da narrativa no reencontro de agressor e vítima neste cenário desigual. 

Até a Morte não é inovador em termos de desenvolvimento da história, mas apresenta uma personagem cujo sangue frio norteia suas ações. Emma mantém a compostura, age no lugar de reagir, não espera ser salva por príncipe encantado da situação em que se encontra. Até brinca com este estereótipo e revela o óbvio que alguns insistem em não ver em sujeitos como Mark, em vez de contemporizá-lo ou a situação. A maneira com que Emma enfrenta o que está diante de si é o que mais gosto no desenvolvimento da narrativa, criando obstáculos verossímeis e suspense em cenas em que esperamos que seja descoberta, mas não é. Megan Fox é uma atriz incisiva, que interpreta com relativa facilidade o papel de uma mulher que se recusa a permanecer imóvel e passiva, mesmo que suas ações nem sempre sejam as melhores. 

SK Dale, que estreia na direção, reforça o isolamento de Emma e o esvaziamento da cabana onde estão a partir de planos conjuntos que convidam o espectador a investigar os quatro cantos para procurar instrumentos que possam a ajudar na missão – como se estivesse jogando um RPG à procura de pistas. Pensei até em alertá-la que o vaso de flores em vidro poderia ser útil, mas deixei passar. SK Dale ainda explora a dificuldade de arrastar o corpo de composição média de Mark por entre cômodos, por escadas ou dentro e fora da casa, sem esquecer o grotesco que é estar presa ao cadáver do ex-marido. 

Não é nada inovador, mas tampouco Até a Morte precisaria ser. Com exceção do instante no terceiro ato que contradiz a agência e voluntariedade de Emma, a narrativa permanece coerente com a discussão do machismo e da misoginia sem ser, ela própria, machista e misógina, dispensando planos que exibem, de forma explícita, a violência por que passa Emma. São 89 minutos que exploram a situação limítrofe com a verossimilhança possível, a atuação comprometida de Megan Fox e a tensão decorrente da metáfora do marido que, mesmo morto, permanece agarrado à esposa, como fardo que deve carregar o bastante antes de tornar a ser livre. 

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