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Assassino sem Rastro

Memory

117 minutos

Liam Neeson interpreta assassino de aluguel com Alzheimer

Depois de Busca Implacável, os filmes de ação protagonizados por Liam Neeson se tornaram tão comuns quanto era encontrar o ator interpretando o arquétipo do sábio ou emprestando o timbre da voz a animações e ao narrador de documentários. Assassino sem Rastro é somente o mais recente filme de ação a adotar a persona que o ator septuagenário criou como a muleta de criação e desenvolvimento do personagem Alex Lewis, um assassino de aluguel que inicia uma caçada solo contra uma rede de pedófilos protegidos pelo alto escalão do poder. Para dificultar a missão, Alex começa a ter lapsos de memória típicos da doença de Alzheimer. 

Não que faça muita diferença no roteiro de Dario Scardapane (que assinou episódios da série da Marvel, Justiceiro), já que o esquecimento de Alex é resolvido com informações anotadas no braço ou com a boa vontade do roteiro. Com efeito, a doença apenas tenta conferir um arco trágico ao personagem, pois não reduz sua habilidade – Alex encara meia dúzia de policiais em certo momento -, nem a determinação e o propósito diante da quantidade de informações que possui. Quem parece imobilizado é Guy Pearce, que interpreta o típico agente do FBI que deve agir de acordo com a cartilha. Ao lado dele, coadjuvantes que nada acrescentam, interpretados por Taj Atwal e Harold Torres. 

A presença de personagens que acentuam a representatividade, porém com mínimo acréscimo à narrativa, e o estabelecimento do pano de fundo geopolítico com a atuação da agência ICE e o aprisionamento de imigrantes em gaiolas, acrescentados à doença do protagonista, procuram diferenciar a narrativa de seus semelhantes, enquanto permanece o mesmo no quesito formal. Começa com a briga entre FBI e a polícia local, clichê recorrente no gênero policial; passa pela corrupção, burocracia e politicagem das organizações; encerra no homem que, a fim de realizar justiça, precisa agir fora dos limites da lei – um clichê também recorrente. Assim, mesmo que a narrativa acredite, não há nada de original nela. Nada.

Tampouco o diretor Martin Campbell, que depois de 007: Cassino Royale não realizou nada de memorável, tem algo a acrescentar no desenvolvimento de cenas de ação mais burocráticas do que as estruturas de justiça criticadas pelo roteiro. Martin emprega a simultaneidade de ações como um meio de construir um suspense inexistente, a exemplo da cena que acontece dentro do barco, e tenta extrair a gota final de suor de Liam Neeson, em stunts tão arriscados quanto o pular da cerca em Busca Implacável 3

Liam Neeson confere algum peso dramático ao personagem, mais vulnerável do que esteve em papéis anteriores, mas sem que o roteiro instrumentalize e dramatize a doença e a dor do personagem, o esforço do ator azeda. Enquanto isso, Guy Pearce está preso à caracterização convencional do detetive, policial ou agente típico, fisicamente descuidado – com cabelos compridos e desgrenhados, o semblante cansado – como a ilustração do estágio emocional e da confiança que tem no meio em que trabalha. Quem surpreende é Monica Bellucci, em papel atípico, como o chefão final que Alex (ou Vincent) deverá vencer. 

Igualmente típico do gênero é o desencantamento das forças policiais – e a resignação dos que exercem a justiça: juízes, promotores, chefes de polícia – diante de investigações de crimes cometidos pela elite da sociedade. É apoiado nisto que a narrativa defende o justiçamento com as próprias mãos, sem qualquer juízo crítico, como alternativa para buscar a justiça no mundo injusto. Era o que faltava para Assassino sem Rastro gabaritar o típico exemplar do cinema de ação policial de ontem e hoje.

Assassino sem Rastro está em exibição nos cinemas.

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