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Pepe

1.5/5

Pepe

2024

122 minutos

1.5/5

Diretor: Nelson Carlos De Los Santos Arias

É razoavelmente bem conhecido o fato de que o narcotraficante Pablo Escobar contrabandeou hipopótamos da África para seu zoológico pessoal na fazenda Nápoles, história apresentada, ao lado de suas consequências, no documentário Os Hipopótamos de Pablo Escobar (2010) e, se estou com a memória em dia, mencionado brevemente na série Narcos. Já este Pepe é a fabulação da trágica história de um destes hipopótamos, que ameaçou a população local até ser abatido covardemente por tropas do exército, conforme a sinopse para o Festival de Berlim menciona: “O primeiro e único hipopótamo já morto nas Américas”.

Com a direção do dominicano Nelson Carlos De Los Santos Arias, Pepe dramatiza o evento a partir de uma voz estilizada que reflete poeticamente acerca da própria condição de um animal retirado de seu habitat. Junto a artes africanas, também saqueadas por toda a história por colonizadores, Pepe é somente mais um exemplar do desterramento para servir aos caprichos de um. A opção narrativa de lhe dar voz humana me trouxe um incômodo, por propor reflexões a Pepe que, contudo, ao término de cada sentença, recorda a nós de sua condição animal, grunhindo. É uma decisão que cria uma quimera narrativamente problemática, somada ao fato de ter quatro vozes (Jhon Narváez, Fareed Matjila, Harmony Ahalwa e Shifafure Faustinus) e ainda uma versão em desenho animado que, posso estar enganado, inspirou-se em um desenho da Hanna Barbera.

Para piorar, a narrativa inusual não é muito bem articulada. Há até uma ficcionalização de um drama familiar shakesperiano em relação à ‘herança do espólio’ deixado pelo hipopótamo progenitor de Pepe e que é disputado pelo seu irmão mais velho e violento. É um núcleo que poderia ser a cola da narrativa, mas serve apenas para justificar o exílio do hipopótamo em direção à natureza e a ameaça à comunidade. (A título de informação, na realidade, Escobar contrabandeou três hipopótamos, e foi o abandono da Fazenda Nápoles depois da morte do traficante o evento que acarretou a soltura dos animais, a ocupação territorial da fauna e o desequilíbrio ambiental subsequente).

Rapidamente, o que parecia ser um fio condutor é descartado, assim como também é abandonado o personagem-título – que se torna uma espécie de monstro do rio – em favor de uma trama passada em um povoado envolvendo o pescador Candelario (Jorge Puntillón García). Enquanto navegava pelos rios da região, a embarcação onde estava foi atacada pelo hipopótamo. Candelario confidencia a história à esposa Betânia (Sor María Ríos), que descarta como uma mentira deslavada; a polícia da região também não dá muito crédito à história. Só quem acredita em Candelario são seus colegas de rio e de bebida, mas a estes tampouco é dada credibilidade. Não os questiono, e a direção nem me força a refletir em sentido contrário. Para falar a verdade, a direção mal sabe trabalhar as ameaças de violência de Candelario contra Betânia, conferindo-lhe um verniz de humor como se a dinâmica do casal fosse sempre essa e, portanto, nem deveríamos nos importar.

Pepe nem mesmo é um exercício de estilo, já que não há um reconhecível. Há um experimentalismo na introdução e repetição dos áudios militares quando caçam o animal, cujos disparos mesclam-se a sons de percussão. Há as ruminações de Pepe ante um cenário de National Geographic, os causos de Candelario e Betânia e a realização de um concurso de beleza que ainda traz à tona as questões sociais daquela região. Mal articulado é até um eufemismo para descrever uma narrativa que, de um modo irônico, remete ao mesmo desmazelo que resultou na soltura dos hipopótamos na natureza da Colômbia, onde até hoje permanecem.

Pepe, este desaparece da memória bem rapidamente.

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